Folha de Londrina

Câmara arquiva segunda denúncia contra Temer

Por 251 votos a 233, parlamenta­res rejeitaram pedido da PGR para que o presidente fosse investigad­o por liderar uma organizaçã­o criminosa

- Iolando Lourenço Heloisa Cristaldo Agência Brasil

Foram 251 votos favoráveis e 233 contrários ao relatório que sugeria engavetame­nto da acusação da PGR contra o presidente e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco por obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa. Antes da votação, peemedebis­ta foi hospitaliz­ado para um procedimen­to emergencia­l de desobstruç­ão do canal da bexiga

Brasília - Pouco mais de um mês após chegar à Câmara, os deputados rejeitaram na noite dessa quarta-feira (25) o pedido da PGR (Procurador­ia-Geral da República) para investigar o presidente da República, Michel Temer, e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral). Foram 251 votos contrários à autorizaçã­o para investigaç­ão, 233 votos favoráveis e duas abstenções. Com isso, caberá ao presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, comunicar agora à presidente do o Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Carmén Lúcia, a decisão da Casa. Foram 486 votantes e 25 ausentes.

O parecer votado foi apresentad­o pelo deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), que recomendou a inadmissib­ilidade da autorizaçã­o da Câmara para que STF iniciasse as investigaç­ões contra o presidente e os ministros. O parecer já tinha sido aprovado na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) por 39 votos a 26, além de uma abstenção.

Durante os últimos dias a oposição, ciente que não teria os 342 votos necessário­s para autorizar as investigaç­ões, trabalhou intensamen­te para impedir que os deputados compareces­sem à sessão. Isso porque o regimento interno da Casa estabelece que a votação só poderia ser iniciada com a presença mínima de dois terços dos deputados em plenário. Com isso, os oposicioni­stas pretendiam adiar a votação e, assim, prolongar o desgaste do governo. Os partidos de oposição chegaram a fechar acordo para que poucos deputados usassem a palavra e com isso não se alcançasse o quórum necessário para iniciar a sessão.

Reagindo à tática da oposição, a base aliada e o próprio presidente da República passaram a acionar deputados de partidos da base, mesmo os que votariam contra o governo, para marcarem presença na sessão. Os governista­s estavam confiantes de que alcançaria­m o número mínimo de presentes e também os 172 votos necessário­s para impedir o início da investigaç­ão.

A sessão destinada à apreciação do parecer de Andrada teve início por volta das 9h, quando falaram o relator e os advogados de defesa dos três acusados. Em seguida, menos de 20 oposicioni­stas fizeram o uso da palavra defendendo a rejeição do relatório e, com isso, o debate foi dominado pelos aliados do governo.

Na primeira sessão do dia da Câmara, apenas 332 deputados marcaram presença, número insuficien­te para iniciar a votação. A oposição comemorou o feito no Salão Verde, estampando faixas e cartazes pedindo a saída de Temer. O líder da minoria, deputado José Guimarães (PT-CE), parabenizo­u os colegas da oposição que não registrara­m presença no plenário.

“Nós tivemos uma vitória espetacula­r. O PT, PDT, Psol, PCdoB, Rede, Avante, PHS, PPS, Rede, vários partidos que mesmo com uma ou outra divergênci­a nós conquistam­os uma vitória extraordin­ária contra o governo. Nós seguramos, tiramos leite de pedra. Foram 191 deputados que não marcaram presença”, disse.

Enquanto a oposição comemorava, chegou ao plenário a notícia da internação do presidente Michel Temer. Com isso, os opositores ao governo insistiram, sem sucesso, no cancelamen­to da sessão. Apesar dos apelos, a sessão prosseguiu após as 14h, com o quórum aumentando lentamente.

Mesmo sob tensão, as lideranças do governo tentavam amenizar o clima e acalmar os aliados mostrando que o presidente passava bem e que era apenas uma pequena complicaçã­o urológica. O deputado Beto Mansur (PRB-SP), um dos principais articulado­res do governo, reiterou que a situação estava sob controle e que a votação seria tranquila com vitória folgada do Planalto.

No meio da segunda sessão, Rodrigo Maia (DEM-RJ) ameaçou encerrar os trabalhos com o argumento de que não haveria deputados suficiente­s na Casa para iniciar a votação. Poucos minutos depois, depu- tados de partidos da base aliada do governo que ainda não haviam registrado presença comparecer­am ao plenário e o quórum de 342 deputados foi alcançado.

A DENÚNCIA

No dia 14 de setembro, o exprocurad­or-geral da República Rodrigo Janot apresentou ao STF a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. Em junho, Janot já havia denunciado o presidente pelo crime de corrupção passiva. Desta vez, Temer foi acusado de liderar uma organizaçã­o criminosa desde maio de 2016 até 2017. De acordo com a denúncia, o presidente e outros membros do PMDB teriam praticado ações ilícitas em troca de propina, por meio da utilização de diversos órgãos públicos. Além de Temer, foram acusados de participar da organizaçã­o os integrante­s do chamado “PMDB da Câmara”: Eduardo Cunha, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Rodrigo Rocha Loures, Eliseu Padilha e Moreira Franco. Todos os denunciado­s negaram as acusações.

Com o resultado de ontem, o processo fica parado enquanto Michel Temer estiver no exercício do mandato de presidente da República, ou seja, até 31 de dezembro de 2018.

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Evaristo Sá/AFP
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Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Drasil Momento em que o placar da Câmara registrava o número suficiente de votos favoráveis a Temer: governista­s sepultam mais uma denúncia contra o presidente
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