MAIS QUE OUVINTES -
Escola municipal desenvolve projeto que incentiva alunos do 3º ao 5º anos a narrar histórias para os colegas
Escola municipal incluiu no Palavras Andantes, considerado pelo Ministério da Educação o melhor projeto de leitura do País, técnicas de contação de histórias: os próprios alunos se tornam narradores
Numa sociedade tão tecnológica como a que vivemos, grande parte das experiências oferecidas às crianças já vem “pronta” e elas acabam desfrutando muito pouco de atividades que exijam iniciativas físicas e cognitivas. Diante desse cenário, a contação de histórias, uma atividade ancestral do ser humano e que já foi uma forma de distrair as crianças, vem ressurgindo como uma importante prática pedagógica e cultural. Especialistas apontam a importância que a contação de histórias tem tido no desenvolvimento emocional das crianças e no processo de aprendizagem como um todo.
O homem, por natureza, gosta de contar e ouvir histórias. Para as crianças, seja em casa, na escola, na biblioteca ou no teatro, ouvir histórias é extremamente importante. “A história mexe com a criança ou o adolescente, fomenta a imaginação, trabalha com as emoções. Os ganhos são imensuráveis: essa criança vai se tornar um adulto com mais possibilidades de compreender o mundo e a si próprio, vai ser uma pessoa mais emocionalmente madura, o que é fundamental para o desenvolvimento dela como um todo”, pondera o professor do departamento de Educação da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Rovilson José da Silva.
A contação de histórias, segundo ele, é especialmente importante para as crianças nos primeiros anos da vida escolar. “Nessa fase em que a criança ainda está começandoaleituraeaindaestámuito próxima da oralidade, o contar histórias vai ser uma ponte mais suave para que ela absorva o hábito da leitura”, explica Silva. Segundo ele, quanto mais nova a criança tiver contato com a leitura, maiores são as chances de que ela se torne um adulto leitor e culto.
Nos momentos de crise e confusão, o primeiro passo é ordenar a própria alma
PALAVRAS ANDANTES
Silva é o idealizador e coordenador do projeto Palavras Andantes, implantado há 15 anos nas escolas municipais de Londrina para estimular a leitura por meio da contação de história. Os resultados são tão positivos que o Palavras Andantes já foi considerado pelo Ministério da Educação o melhor projeto de leitura do País e tem se desdobrado em outros projetos.
Na Escola Municipal Cláudia Rizzi, a professora responsável pelo projeto, Claudineia Marques de Souza, incluiu técnicas de contação de história nas atividades, o que culminou num a ação em que os próprios alunos se tornam contadores. “O Pequenos Contadores nasceu de uma dificuldade que tínhamos em encontrar contadores de histórias para as comemorações do Dia das Crianças”, conta a supervisora da escola, Waléria Pimenta Martins Silva.
Criado há um ano, o Pequenos Contadores é desenvolvido com as turmas do 3º ao 5º ano e, mesmo com a participação facultativa, o número de alunos participantes dobrou na segunda edição, realizada recentemente. Por dois dias, antes e depois das aulas e também nos intervalos, esses alunos contaram histórias para os demais. “Eles próprios escolhem a história que vão contar e, nessa busca, eles passam por diferentes tipos de leitura, o que é muito enriquecedor para eles. A desenvoltura na leitura melhora muito”, conta a supervisora.
INDISCIPLINA
Mas os resultados não se restringem a isso. De acordo com a supervisora, alunos indisciplinados apresentam melhora no comportamento. “Tivemos um aluno que dava muito trabalho. Depois do projeto, ele mudou muito e se encontrou na contação de histórias. Gosta tanto que, no fim do ano, quando temos um festival de talentos, ele se inscreveu como contador de histórias”, lembra.
Em sala de aula, outros resultados positivos são percebidos. “O desempenho em sala é melhorado como um todo porque o desenvolvimento da leitura influencia em todas as outras áreas. A interpretação de texto melhora, a compreensão, o raciocínio, o vocabulário, os mais tímidos vencem a timidez e o processo de aprendizagem como um todo é beneficiado”, completa.
“A história mexe com a criança ou o adolescente, fomenta a imaginação, trabalha com as emoções”