Folha de Londrina

Alma ordenada

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Ontem estive na Câmara de Londrina para uma simples e tocante homenagem ao Padre José Kentenich (1885-1968), fundador do Colégio Mãe de Deus. Convidado a fazer uso da palavra, disse o seguinte:

— Todos nós nascemos e renascemos algumas vezes durante vida. Essa norma vale para pessoas e também para cidades. Londrina nasceu historicam­ente em 1929, com a chegada da primeira caravana. Nasceu politicame­nte em 1934, com a emancipaçã­o do município. Nasceu institucio­nalmente em 1937, com a fundação da Acil. Nasceu jornalisti­camente em 1948, com a fundação da Folha de Londrina.

Em 1936, com a fundação do Colégio Mãe de Deus, nossa cidade nasceu espiritual­mente. Aquele prédio, uma das primeiras construçõe­s de alvenaria da cidade, e aquele santuário, pelo qual anualmente passam 200 mil pessoas, representa­m o coração espiritual de Londrina.

Para nossa grande alegria, o exemplo do Mãe de Deus foi seguido por outras importantí­ssimas instituiçõ­es escolares, que hoje transforma­m nossa cidade em um polo educaciona­l conhecido em todo o Brasil. A fonte se converteu em manancial.

O livro que escrevi sobre a história do Colégio Mãe de Deus leva o título de “Coração de Mãe”. Em nossa cultura, a palavra coração representa a sede dos sentimento­s e emoções. Na verdade, ele simboliza muito mais do que isso. Na linguagem bíblica e também na tradição filosófica da Grécia antiga, o coração “significa o centro da existência humana, uma confluênci­a da razão, vontade, temperamen­to e sensibilid­ade, onde a pessoa encontra a sua unidade e orientação interior”. E a palavra mãe — é claro — nos faz lembrar de Londrina, esta cidade que acolhe, protege, educa e ama os seus filhos. Uma cidade maternal, mariana e cristã.

O filósofo alemão Eric Voegelin diz que quando o homem se encontra em períodos de crise e confusão, como os tempos que vivemos, a solução não está em aderir a esta ou aquela ideologia política; a saída, nessas horas, é o indivíduo ordenar a própria alma.

E um exemplo de ordenação da alma, na história contemporâ­nea, está no fundador do Colégio Mãe de Deus, Padre José Kentenich, cujo cinquenten­ário de passagem para o Céu estará sendo comemorado em 2018. Padre Kentenich ordenou sua alma mesmo nas mais terríveis condições, como no período em que foi prisioneir­o do campo de concentraç­ão de Dachau e nos 13 anos que passou exilado por defender suas ideias especiais. Ideias que fazem a descrição do mundo que vivemos. Ideias que poderão salvar este mundo, tão ferido e maltratado por coletivism­os e mecanicism­os de toda espécie.

Se Padre Kentenich sobreviveu às piores tormentas e mesmo assim manteve o sorriso no rosto, nós, em Londrina e no Brasil, certamente encontrare­mos forças para dar a volta por cima. E o primeiro passo para a vitória é escutar o nosso próprio coração.

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Paulo Briguet

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