Folha de Londrina

Inovar, investir, se atualizar: o caminho pós-crise

Crise começa a dar sinais de arrefecime­nto e micros, pequenos e médios empresário­s devem se preparar para novo cenário econômico

- Simoni Saris Reportagem Local

Palestrant­e, painelista­s e mediador da 10a edição do evento destacaram que retomada da atividade econômica, com pesquisas indicando clima de otimismo, é cenário ideal para que micros, pequenas e médias empresas busquem se renovar. Ao mesmo tempo, especialis­tas cobraram políticas públicas, como desburocra­tização e acesso ao crédito

Vencido o período mais crítico da crise econômica de 2015 e 2016, o mercado começa a dar sinais de melhora. A taxa básica de juros, a Selic, teve a nona redução seguida na quarta-feira, 25, baixando de 8,25% para 7,5%, e a inflação está controlada, devendo terminar o ano próxima de 3%. Projeções apontam que até dezembro de 2018 os indicadore­s econômicos sejam semelhante­s aos observados no período pré-crise, com a retomada do poder de compra dos brasileiro­s e o consequent­e cresciment­o do consumo.

Nesse cenário otimista, as micros, pequenas e médias empresas terão de inovar, investir e se atualizar para poder aproveitar o novo ciclo econômico. “O momento da retomada do cresciment­o é o momento propício para dar uma chacoalhad­a na empresa, renovar”, afirma o professor em gestão empresaria­l e gestão financeira do ISAE/ FGV Marco Antonio Nascimento Cunha. Na quarta-feira, 25, ele participou como palestrant­es da 10ª edição do EncontrosF­olha, que teve como tema “Saúde Financeira – Os Reflexos da Atual Conjuntura Econômica para os Pequenos e Médios Empresário­s Brasileiro­s”.

O evento também contou com a participaç­ão dos painelista­s Júlio Cezar Agostini (diretor de Operações do Sebrae/PR) e David Vacari Conchon (gerente regional Norte de Desenvolvi­mento do Sicredi). E foi mediado pelo economista, professor da UTFPR e colunista da FOLHA, Marcos Rambalducc­i.

Dados do Sebrae mostram que o número de micros e pequenos negócios em atividade no País saltou de 6.041.062 em 2010 para 6.634.199 em 2015, representa­ndo 99% das empresas no Brasil e 54% da nossa massa salarial. Uma pesquisa realizada em setembro pelo próprio Sebrae ouviu pequenos e médios empresário­s sobre a expectativ­a deles para a economia. O resultado apontou que 35,7% acreditam que vai melhorar e 30% esperam que o cenário atual deva se manter, totalizand­o 65,7% o índice de pessoas que não apostam em uma piora econômica.

A expectativ­a de melhora na economia, afirma Cunha, geralmente se reflete em investimen­to e contrataçã­o, gerando renda e negócios e retroalime­ntam a empresa. Apenas as boas perspectiv­as, diz ele, já contribuem para aquecer o mercado.

O professor da ISAE/FGV salienta que a expectativ­a de que a taxa Selic fique em torno dos 7% pelo menos pelos próximos três anos e de que a inflação se mantenha em torno de 3% pelo mesmo período. Associados a outros fatores econômicos que fazem parte desse quadro favorável devem dar à economia um vigor de três anos de cresciment­o. “Sob o aspecto do consumo, esses dois fatores (taxa de juros e inflação) passam a ter uma relevância muito grande. Antes de dezembro de 2018 devemos chegar na retomada do consumo e também do PIB (Produto Interno Bruto). Vai ficar faltando a questão do investimen­to, que vai demorar um pouco mais para voltar ao patamar anterior à crise”, disse Cunha.

Assim como para os grandes empresário­s, o momento atual para os micros e pequenos empreended­ores é de tentar retomar as vendas, voltar a ter resultados e diminuir o endividame­nto para ter uma sobra de caixa, que vai possibilit­ar voltar a investir de uma forma mais consistent­e. “A forma mais rápida de as pequenas e médias empresas começarem a resolver seus problemas é renegociar suas dívidas porque as taxas estão mais baratas e

OBJETIVOS

Cunha lembra que em períodos de crise cresce o chamado empreended­orismo por necessidad­e e diminui o empreended­orismo por oportunida­de. “De repente o empreended­or perdeu seu emprego, recebeu sua verba rescisória e com isso ele vai tentar de alguma forma empreender para sobreviver nesse período, mas muitas vezes ele não está apto para isso, não se preparou”, destaca o professor.

Esse é um processo, segundo ele, diferente do empreended­orismo por oportunida­de, quando a pessoa percebe uma oportunida­de no mercado e decide explorar. “Ela já tem uma noção mais clara do que está acontecend­o naquele mercado de atuação e, nesse caso, a chance de sucesso é maior.”

Traçar objetivos, segundo Cunha, é fundamenta­l seja num momento de crise ou de economia aquecida. Após a fase inicial do empreended­orismo, vem a fase do cresciment­o, seguida da maturidade e do declínio, que é a acomodação natural. “O empreended­or pode entrar num novo ciclo desde que queira inovar, investir e se atualizar.

o custo da dívida começa a cair. Essa redução gera um caixa para a empresa”, orienta o professor.

Mas o empreended­or deve conhecer o seu perfil. Se não tiver uma postura inovadora, de cresciment­o, de batalha, se não estiver com esse gás, não vai fazer diferença para ele se está na recessão ou no período do cresciment­o econômico porque, como pessoa, não está conseguind­o ter a energia necessária para ter sucesso no mercado”, alertou Cunha. negócio. É preciso saber separar os interesses familiares da gestão empresaria­l com o objetivo de alcançar a qualidade no processo decisório. “Essa separação de sociedade em relação à empresa, à gestão, deve ser feita o quanto antes. É comum haver uma confusão entre empresa e família, empresa e fundador. Misturam-se as finanças, a gestão, o consumo, as despesas. Não se pode usar o capital de giro da empresa para comprar a casa própria, trocar de carro. Essa é a atitude mais nociva”, pontua Cunha.

Solucionad­a a questão da governança, o empresário deve voltar os seus esforços para o planejamen­to estratégic­o baseado em recursos, etapa na qual são estabeleci­das as metas para os próximos anos de acordo com os recursos necessário­s. “Tem que ter uma visão de onde quer estar daqui a algum tempo e tem que conhecer quais recursos dispõe e de quais recursos vai precisar. A estratégia baseada em recursos é diferente do planejamen­to estratégic­o convencion­al, onde você olha o mercado. A estratégia baseada em recursos olha para dentro de casa e faz uma pergunta fundamenta­l: No que eu sou bom? Quais as competênci­as que eu tenho? Qual minha vocação pessoal dentro da organizaçã­o? Qual a vocação da equipe dentro da organizaçã­o?”, orienta Cunha.

Ao lado do planejamen­to estratégic­o de recursos, o professor ressalta também a importânci­a do plano de negócios (business plan), que não precisa ser formalizad­o e impresso, mas deve ser renovado ano a ano, e a excelência no atendiment­o. “É preciso planejar, ter todas as suas necessidad­es perseguida­s e um plano de ação para integrar essas necessidad­es. Isso se faz todo ano”, ensina. “Tem diversas empresas que estão se debatendo com questões financeira­s, questões de gestão, mas não estão atentas à qualidade do atendiment­o, que é o básico e o que realmente importa e trava o cresciment­o da empresa. Se fizer tudo isso, pode vir a crise que não tem problema nenhum.”

A 10ª edição do EncontrosF­olha contou com patrocínio do ISAE/FGV, Sicredi e construtor­a Vectra.

GOVERNANÇA O palestrant­e também chamou atenção o papel da governança familiar ou corporativ­a para a sobrevivên­cia do

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Ricardo Chicarelli Marco Antonio Nascimento Cunha: momento ideal para dar uma “chacoalhad­a” na empresa

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