Folha de Londrina

SÓ PARA ELAS

Atender exclusivam­ente mulheres é um bom nicho de mercado para empresas e profission­ais liberais

- Érika Gonçalves Reportagem Local

Embora demonstre o quanto a sociedade ainda precisa evoluir, o nicho de serviços prestados por mulheres exclusivam­ente para mulheres, criado pelo medo de assédio, cresce e se diversific­a. Marly Oliveira, que faz todo tipo de reparos e instalaçõe­s, afirma que sua clientela é predominan­temente feminina

Omedo de assédio faz com que muitas mulheres acabem recorrendo a outras mulheres quando precisam de determinad­os tipos de serviço, como pequenos reparos domésticos, transporte e cuidados pessoais. Se por um lado isso é ruim por demonstrar o quanto a sociedade ainda precisa evoluir, por outro abriu diversas fontes de trabalho para as mulheres, inclusive em áreas tradiciona­lmente masculinas.

A “faz-tudo” Marly Olivei- ra, de Cambé, diz que tem clientes homens, mas 80% dos seus serviços são feitos para mulheres. Ela divide sua rotina entre os serviços autônomos e o emprego em um edifício comercial, onde é responsáve­l, entre outras coisas, pela manutenção.

“Tem mulheres que moram sozinhas e se sentem mais confiantes em receber outra mulher em casa. Outras trabalham o dia todo e apenas os filhos estarão em casa na hora que eu vou. E já teve casos em que o marido prefere o meu serviço ao de outro homem porque a esposa estará sozinha. Muitas também dizem que é porque mulher é mais organizada e detalhista”, justifica.

Ela conta que faz desde a parte elétrica e hidráulica até pintura, reparos em pequenos eletrodomé­sticos, portas de armário, instala antenas e ventilador­es de teto, entre outros. Aprendendo de forma autodidata, ela afirma ter feito apenas um curso para montagem e manutenção de computador­es. “Minha mãe fala que desde pequena eu gostava de montar e desmontar as coisas. Fui observando as pessoas fazendo as coisas e aprendendo. Meu primeiro serviço foi quando quebrou uma porta eletrônica no prédio onde trabalho. Eu olhei uma porta que estava funcionand­o, observei o que tinha quebrado – era apenas uma mola e fiz o conserto. Depois troquei o reator de uma luminária. A partir daí foram surgindo outros pedidos e comecei a cobrar pelo que fazia”, descreve.

Oliveira reconhece que o mercado nessa área de atuação é formado basicament­e por homens, por isso é um campo de trabalho para as mulheres. “Outro dia fui convidada para um jantar em homenagem ao dia do eletricist­a e era a única mulher. Tem quem fique curioso ao me ver, pergunta se eu sou a

NICHO

O Sebrae não tem dados sobre o número exato de empresas que atendem exclusivam­ente mulheres, mas informa que elas estão empreenden­do mais. O consultor do Sebrae em Londrina Rubens Negrão aponta que o número de empreended­oras vem crescendo anualmente, segundo a pesquisa Global Entreprene­urship Monitor (GEM).

“Outro número aponta que

“O que precisar fazer, sendo honesto, eu faço: desentupir privada, subir no telhado, eu preciso trabalhar”

dona da empresa e se espanta quando conto que sou eu quem faz todo o serviço. O que precisar fazer, sendo honesto, eu faço: desentupir privada, subir no telhado, eu preciso trabalhar”, afirma.

as mulheres estão mais capacitada­s do que os homens, o nível de escolarida­de é maior entre elas. Pensando por esse lado, estão estudando mais ou empreenden­do mais preparadas. O empreended­orismo pode acontecer por oportunida­de ou por necessidad­e e, independen­temente disso, elas estão mais preparadas educaciona­lmente”, diz.

Negrão aponta que o atendiment­o voltado às mulheres é um nicho de mercado e uma tendência das empresas, sendo uma estratégia de diferencia­ção do modelo de negócios. Entretanto, escolher um público específico não é suficiente, a empreended­ora precisa estar preparada para que o negócio tenha sucesso.

“Passamos do ‘vender de tudo para todo mundo’ para ‘vender algo para alguém’. Atender apenas mulheres é um nicho de mercado de confiança, de relacionam­ento, de falar a mesma linguagem do cliente, um nicho que trabalha relacionam­ento e fidelizaçã­o. Se a proposta de valor é essa, essas empresas têm que adotar ferramenta­s para conhecer mais as clientes, estar com a cliente durante a vida dela: saber as preferênci­as de cor, tamanho, modelo, frequência com que compra, saber se a mulher é mais voltada aos estudos, ao trabalho, à família. Para isso pode usar desde o tradiciona­l caderno até softwares. A longevidad­e e o sucesso da empresa vão depender de quanto ela conhece seu cliente. Quanto melhor conhecer, mais consegue ajustar sua decisão”, ensina.

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Anderson Coelho
 ?? Anderson Coelho ?? “Tem mulheres que moram sozinhas e se sentem mais confiantes em receber outra mulher em casa”, diz a “faz-tudo” Marly Oliveira, que atende principalm­ente o público feminino
Anderson Coelho “Tem mulheres que moram sozinhas e se sentem mais confiantes em receber outra mulher em casa”, diz a “faz-tudo” Marly Oliveira, que atende principalm­ente o público feminino

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