Liberdade sem limites
O máximo de liberdade que o mundo ocidental proporcionou a seus cidadãos foi ofertado pelo Estado mínimo, o que não significa ausência de Estado e ausência de limites sobre a liberdade social e econômica. Desde o alvorecer dos tempos, ela, a liberdade, é ambicionada, mas sempre se ajustando pela submissão de uns para que outros pudessem ser genuinamente livres. Após milênios, o instituto do Estado moderno veio tentar equalizar as relações procurando um sentido de igualdade, ainda que imperfeita. Seria possível encontrá-la, geral e irrestrita, estando o cidadão condicionado às vicissitudes diárias da luta pela subsistência? Ainda que aspiremos a isso, as relações de poder, indeléveis no convívio diário, perseveram em subjugar o homem seja pelos ferros de outrora, seja pela doutrinação sob as mais variadas ideologias. Inescapáveis, essas relações que se valem há muito tempo, desde a força física à intelectual mediante os subterfúgios da política marqueteira ou mesmo da mais inocente propaganda na TV, são de nossa natureza e incompatíveis com a liberdade plena.
Contudo, acima do arbítrio das relações de poder, há outra poda que se dá pelo limite, que quando equilibrado harmoniza o conteúdo das relações e possibilita a convivência, dando a cada qual o que lhe é de direito, produzindo o bom gosto, o bom senso e paz social. Não é uma invenção autoritária para tolher, mas uma convenção que aprimora a relação entre iguais que se respeitam. Em um mundo às avessas, hoje em dia exacerbado, descobrimos que todas as instituições são desprovidas da verdade, o que esmaece bastante os limites. Todavia, a liberdade sem limites só a temos quando desprezamos o outro e, portanto quão adequado seria não desejássemos ser, para o bem da própria civilização que almejamos, tão livres quanto gostaríamos. Enquanto houver o outro, a prudência em nos policiar pode, quem sabe, levar-nos ao encontro de uma liberdade inusitada e absoluta de nós mesmos.
DAVSON MARCELINO SILVA é administrador em Bandeirantes