Sete pessoas são assassinadas por hora no Brasil
No Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram contabilizadas 61.619 mortes violentas intencionais em 2016, maior volume absoluto já registrado no País. “É como se o Brasil sofresse um ataque de bomba atômica por ano”, comparou diretor-presidente da en
OBrasil registrou 61.619 mortes violentas intencionais em 2016, o que equivale a sete pessoas assassinadas por hora, maior volume absoluto já registrado no País. Foram 171 casos por dia - um crescimento de 3,8% em relação a 2015. A taxa foi de 29,9 homicídios por 100 mil habitantes. No Paraná, a quantidade de assassinatos passou de 2.840 em 2015 (25,4 a cada 100 mil habitantes) para 2.914 (25,9) no ano passado, um aumento de 1,9%. Os dados divulgados nesta segunda-feira (30) são do 11° Anuário do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
“É como se o Brasil sofresse um ataque de bomba atômica por ano. São dados impressionantes, que reforçam a necessidade de mudanças urgentes na maneira como fazemos políticas de segurança pública no Brasil. Não é possível aceitar que a sociedade conviva com esse nível de violência letal”, alfinetou Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum. As maiores taxas de homicídios do País foram registradas em Sergipe (64 a cada 100 mil habitantes), Rio Grande do Norte (56,9) e Alagoas (55,9).
O pesquisador David Marques, do FBPS, ressalta que o cenário do Paraná não foge da lógica dos outros Estados. “Esse crescimento de 1,9% no Estado pode indicar estabilidade de morte violenta no Estado, mas o que chama a atenção é o crescimento das ocorrências de latrocínios”, observou.
O relatório mostra que o crime de latrocínio subiu 57,8% no País entre 2010 e 2016, quando houve 2,5 mil registros - sete casos por dia. Somente no ano passado foram 111 vítimas de latrocínios no Paraná em 60 ocorrências registradas. “É preciso atenção em relação à política de controle de armas. O fundamental é a retirada de circulação de armas de fogo ilegais”, apontou.
Questionado se o Paraná não teria um papel importante nesse controle, já que o Estado é corredor do contrabando e do tráfico de armas, Marques ressaltou que a maior parte das armas apreendidas em crimes de homicídio é de fabricação nacional. “Essas armas foram legais algum dia. Isso mostra que o controle de armas deve ser uma tarefa doméstica. O Paraná não foge disso, com uma dinâmica mais interna que internacionalizada”, argumentou.
A pesquisa aponta, na visão de Marques, que a política de enfrentamento ostensivo não tem dado resultado na redução da criminalidade. “A gente vê que nos últimos 20 anos houve hipertrofia do policiamento ostensivo praticado pela Polícia Militar, que dá uma sensação de segurança pontual pela presença física, mas que provoca encarceramento massivo pelo qual não há oportunidades de ressocialização. A Polícia Civil não teve a mesma atenção e enfrenta dificuldades gritantes. Hoje os investigadores ficam fazendo atividade cartorária de registro dos crimes e apenas investigam os de mais repercussão. É preciso investir em estratégias de policiamento investigativo que atacam organizações criminosas, para que o conjunto de crimes mais graves seja impactado e não o microtraficante que é preso com porções pequenas de drogas e resulta na superlotação dos presídios”, criticou.
A publicação incluiu pela primeira vez dados sobre feminicídio, que é o assassinato de mulheres em contextos marcados pela desigualdade de gênero. Em 2016, 4.657 mulheres foram assassinadas no País, mas somente 533 casos foram classificados como feminicídio. “Isso é um indício de que há uma dificuldade das autoridades na aplicação dessa classificação em seu primeiro ano de implementação”, explicou Samira Bueno, diretora executiva do FBSP. No Paraná, 198 mulheres morreram assassinadas em 2016. No entanto apenas 20 dessas ocorrências foram classificadas como feminicídio.
Segundo ela, o levantamento revela a necessidade de melhorar os registros, que ainda estão longe do ideal. Ainda sobre violência de gênero, foram registados 49.497 estupros - em mais de 90% dos casos a vítima é mulher. Desse total, 4.164 aconteceram no Paraná, o que equivale a 8,41% do total registrado no Brasil.
O estudo aponta ainda que o investimento público em segurança foi de R$ 81 bilhões em 2016, 2,6% a menos do que no ano anterior. No Paraná, o investimento foi de R$ 3,8 bilhões, o que representa um aumento de 6,52% em relação a 2015. “É preciso um processo de transformação dentro das políticas públicas de segurança, com a aproximação e articulação das instituições existentes para economizar recursos. É preciso um controle das armas de fogo e um processo de qualificação da inteligência e da investigação”, orientou Marques.
Não é possível aceitar que a sociedade conviva com esse nível de violência letal”