Quadrilha que planejava fraudar Enem 2017 é presa em GO e no DF
Operação Porta Fechada foi deflagrada para evitar o sucesso da quadrilha no exame deste ano
Goiânia - Uma operação conjunta das Polícias Civis de Goiás e do Distrito Federal desarticulou uma quadrilha que fraudou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2016 e estava com tudo pronto para fraudar novamente a prova, que começa no domingo (5) em todo o País. Ao todo, são oito mandados de prisão, dos quais sete foram cumpridos nesta segunda-feira (30), sendo três detenções em Goiás e três em Brasília - um mandado foi expedido contra uma pessoa que já estava presa. Um suspeito seguia foragido.
As investigações ainda não estavam concluídas, mas a Operação Porta Fechada foi deflagrada para evitar o sucesso da quadrilha no Enem deste ano. “Antecipamos a operação para resguardar a lisura do certame”, afirmou o delegado Rômulo Figueiredo Matos, da Derccap (Delegacia de Repressão a Crimes contra a Administração Pública), e que comanda a operação em Goiás. Nas palavras dele, o volume de dinheiro movimentado pela quadrilha “é assustador”.
Entre os investigados está um ex-funcionário do Cesp (Centro de Promoção e Seleção de Eventos), atual Cebraspe (Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos), em Brasília.
Vídeo divulgado pela Polícia Civil de Goiás mostra o ex-servidor, preso nesta segunda-feira (30), transitando dentro do Cespe com envelopes que conteriam cartões nominais de candidatos preenchido com as respostas obtidas a partir do original do gabaritos de concursos preparados pelo Cespe. O servidor acessava o cofre da instituição, retirando e devolvendo envelopes antes da correção pelas bancas.
Uma única candidata de Goiânia teria pago R$ 800 mil em um “pacote” para fraudar, ao mesmo tempo, o último Enem para a filha, e o concurso para delegado da Polícia Civil em Goiás, para aprovação da própria suspeita. “Por um desencontro de dados, a filha não teve êxito no Enem, mas a mãe estava entre os dez primeiros colocados no concurso”, afirmou o delegado à reportagem.
Dados de negociações como esta, envolvendo dezenas de candidatos que compraram vagas em diferentes concursos, foram apreendidos durante a operação. O concurso para delegado acabou suspenso em maio por causa da fraude que beneficiou pelo menos 16 candidatos identificados pelos investigadores. As provas tinham sido realizadas em fevereiro, e o resultado, divulgado em março.
Um grande número de candidatos com nota superior a 90 pontos levou candidatos a denunciar o caso ao Ministério Público, que questionou o certame. O Poder Judiciário local concedeu liminar suspendendo o resultado em maio.
As investigações sobre fraude no concurso da Polícia Civil goiana apontaram o envolvido da quadrilha em fraudes de diversos concursos de cargos e carreiras, do Enem e de vestibulares, especialmente para cursos de medicina, em diferentes Estados, dando início ao aprofundamento da apuração. Os aliciados pagavam entre R$ 150 e R$ 300 mil, conforme a pretensão.
O delegado espera concluir o primeiro inquérito sobre o caso em dez dias, mas salientou que ele deve desdobrar em no mínimo outros seis inquéritos locais “apenas sobre concursos”, fora outros crimes e também os que deverão ser instaurados por delegacias de outros Estados, para os quais vai remeter cópias. Estavam previstos 36 mandados judiciais, sendo 17 de busca e apreensão, 11 de condução coercitiva e oito de prisão.
Os presos vão responder por formação de quadrilha, fraude em concurso público, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, entre outros crimes.
O advogado Marcus Vinicius Figueiredo, que defende o Cebraspe, informou que o órgão tem atuado junto a Polícia Civil desde o início das investigações. Segundo o defensor, o Centro entregou documentação e filmagens à Polícia.