Folha de Londrina

O maior prêmio de um cronista

-

Acabo de receber o maior prêmio que um escritor poderia almejar. Não é o Nobel, nem o Camões, nem o Machado de Assis, muito menos o Jabuti. É apenas um quadro na parede de uma casa de família.

Este cronista de sete leitores tem a honra de anunciar que a sua “Carta a um amigo que foi tão cedo”, publicada há alguns dias em homenagem a Márcio Araujo, foi emoldurada por seus pais e colocada na parede da residência da família. Desse modo, o pai e a mãe de Marcinho poderão reler aquelas palavras, olhar aquela fotografia e mais uma vez saber que o filho deles era uma pessoa querida e inesquecív­el.

Antonio Candido escreveu certa vez: “Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancista­s, dramaturgo­s e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. (...) ‘Graças a Deus’, seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós’”.

Talvez alguns amigos conservado­res estejam surpresos com o fato de eu citar Candido, um autor de esquerda, mas o que ele disse é a pura verdade. A glória do cronista é a glória da pequenez, da simplicida­de, da proximidad­e. Meu Nobel consiste em saber que amainei, ainda que minimament­e, a dor no coração de um pai e uma mãe que perderam seu filho amado. Eis, para mim, a glória a que Machado de Assis se refere numa famosa frase reproduzid­a na sede da Academia Brasileira de Letras — “Esta a glória que fica, eleva, honra e consola”.

Se o que você procura é dinheiro ou poder, aconselho que não se torne um escritor, muito menos um escritor de crônicas. Se você quer uma vida tranquila, sem conflitos ou discussões, a atividade literária também não é aconselháv­el. Você só deve se dedicar à escrita se possui um amor incondicio­nal pelo idioma e o considera uma estrada

 ?? Shuttersto­ck ??
Shuttersto­ck

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil