Folha de Londrina

FGV contabiliz­a retração de 8,6% em 11 trimestres e vê recuperaçã­o lenta

Perda acumulada pelo PIB foi a mais intensa da série histórica, mas muito similar com a queda de 8,5% de 1981 a 1983

- Daniela Amorim Vinicius Neder Agência Estado

Rio -

Após uma longa recessão, a atividade econômica brasileira entrou num período de expansão a partir do primeiro trimestre de 2017, mas a retomada tem sido mais lenta do que nos períodos de crise registrado­s no passado, segundo avaliação do Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos) da FGV (Fundação Getulio Vargas).

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro encolheu 8,6% em 11 trimestres de recessão. Em reunião na última sexta-feira, o Codace, órgão independen­te criado pela FGV para acompanhar os ciclos da economia, identifica­ndo períodos de expansão e retração, marcou o quarto trimestre de 2016 como o fim da recessão. Segundo o comitê, o ciclo de retração tinha começado no segundo trimestre de 2014.

“Além de a recessão terminada no quarto trimestre de 2016 ter sido longa e intensa, o comitê avaliou que a recuperaçã­o tem se mostrado até aqui lenta em comparação com o padrão observado nas saídas de recessões anteriores”, declarou o Codace em comunicado divulgado nesta segunda-feira, 30.

O comitê avaliou que a recessão de 2014-2016 foi a mais longa entre as nove datadas pelo órgão a partir de 1980, empatada com a de 1989-1992. A perda acumulada pelo PIB também foi a mais intensa da série histórica, mas muito similar com a queda de 8,5% do PIB na recessão de 1981-1983. O cálculo teve como base os dados das Contas Nacionais apuradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

A recessão ficou para trás, mas ainda há um caminho consideráv­el até que a economia nacional se recupere. A atividade econômica teria ainda que crescer 4,3% a partir de 2019 para retornar ao nível de 2014, quando o ciclo recessivo começou, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Consideran­do o cresciment­o populacion­al, o Brasil só se recuperará em 2022, conforme cálculos da LCA Consultore­s.

As projeções do Ipea apontam cresciment­o de 0,7% no PIB de 2017, seguido de avanço de 2,6% em 2018. Por isso, para voltar ao nível anterior à recessão, fal- taria crescer 4,3%, avanço difícil para um ano apenas. Ainda assim, o diretor de Estudos e Políticas Macroeconô­micas do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior, não descarta cresci- mento acelerado em 2019. “Não é fácil, mas não é impossível. Há ainda indefiniçõ­es acerca de reformas e do cenário político, mas, ha- vendo ambiente favorável, é possível crescer mais”, disse.

Souza Júnior lembrou que o cenário externo está atualmente favorável ao cresciment­o econômico, o que compensa em parte o impacto negativo da crise política doméstica. Entre as pendências para a aceleração no ritmo de cresciment­o da economia estão as reformas tributária e da Previdênci­a, a revisão de programas de governo e os avanços em normas regulatóri­as. “É importante aprovar as medidas necessária­s para promover o ajuste fiscal e modernizar a economia”, afirmou o diretor do Ipea.

Para Mônica de Bolle, pesquisado­ra do Instituto Peterson de Economia Internacio­nal, em Washington (EUA), a recuperaçã­o será lenta. “A gente está saindo da recessão sem investimen­to. Tem um lado da economia que, claramente, não tem recuperaçã­o. Não tem, em grande parte, por causa desse quadro político ruim, que vai continuar com a gente até 2018”, afirmou a economista, que vê as eleições do próximo ano como o grande fator de incerteza para o cresciment­o da economia.

O economista-chefe da LCA Consultore­s, Braulio Borges, também vê o Brasil saindo da recessão em marcha lenta. As projeções da LCA apontam que o PIB per capita, ou seja, dividido por cada habitante do País, deverá retomar o patamar de antes da recessão apenas na virada de 2021 para 2022.

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