Folha de Londrina

Pirata até na horta

Associação lança campanha contra uso de sementes informais de hortaliças, que prejudica padrão do produto colhido e reduz defesa diante de doenças e pragas

- Fábio Galiotto Reportagem Local

Problema conhecido na cadeia de grãos, a pirataria de sementes virou motivo de preocupaçã­o também no mercado de de hortifrúti. O uso da matéria-prima salva pelo agricultor para replantio ou para comércio clandestin­o, conhecida também por informal ou F2, leva à redução da produtivid­ade, ao aumento da chance de incidência de doenças e pragas e à colheita de produtos de baixa qualidade, com alterações em caracterís­ticas como tamanho, formato, sabor e tempo de prateleira.

Por isso, a ABCSEM (Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas) lançou a Campanha Nacional de Combate à Pirataria de Sementes de Hortaliças, com apoio do Mapa (Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto). O objetivo é conscienti­zar toda a cadeia sobre riscos e desestímul­o à pesquisa.

O secretário executivo da ABCSEM, Marcelo Rodrigues Pacotte, afirma que observou aumento nos últimos anos no uso de sementes F2, principalm­ente no cultivo de melancias, melões e pimentões. “Sabemos que muitas vezes o produtor é enganado, porque os ilegais usam embalagens muito parecidas às originais, mas, depois do plantio, o resultado são frutos sem padrão, com alterações de cor, de sabor e de tamanho.”

Ainda sem dados consolidad­os, Pacotte diz que há estados em que as sementes informais chegaram a 50% da área plantada de melancia. “Vai chegar um momento em que todo o trabalho com pesquisa vai parar e as doenças que estavam controlada­s em uma região vão voltar, porque as sementes salvas não têm a mesma eficácia que as originais.”

O executivo considera que é o consumidor que leva a pior, por correr o risco até de comprar um produto com casca oca, o que afeta a relação com o ponto de venda. Por isso, cita que a campanha chegará aos pontos de venda. “A rede varejistas e atacadista­s mostram muita preocupaçã­o com a rastreabil­idade, se tem nota fiscal, se usou agrotóxico, mas não apresentam a mesma atenção em relação ao uso de sementes originais”, diz.

PROBLEMA CRÔNICO

Diretor da Abrates (Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes) e pesquisado­r da Embrapa Soja, José de Barros França Neto diz que a semente salva pelo produtor não é ilegal, ainda que obedeça regras que visam coibir o comércio ilegal. Porém, diz que nas culturas mais consolidad­as como a de grãos, há risco de perda de 10% de produtivid­ade já no plantio. “O produtor perde em germinação, na quantidade de plantas por área e na qualidade do produto”, cita. Por outro lado, lembra que as plantas de alto vigor têm até 25% de ganho na colheita. “É fazer economia com uma matéria-prima que representa menos de 10% do custo de produção.”

O secretário-executivo da Abrass (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja), Leonardo Machado, diz que o problema tem aumentado pela sensação de impunidade, pelo falso entendimen­to de economia no cultivo, pelas cotações mais baixas para alguns grãos e pela demora maior na liberação de crédito oficial. “Quem comerciali­za produto pirata está sujeito a penalidade­s de até 150% do valor que receberia e quem compra também é multado”, alerta.

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