Pirata até na horta
Associação lança campanha contra uso de sementes informais de hortaliças, que prejudica padrão do produto colhido e reduz defesa diante de doenças e pragas
Problema conhecido na cadeia de grãos, a pirataria de sementes virou motivo de preocupação também no mercado de de hortifrúti. O uso da matéria-prima salva pelo agricultor para replantio ou para comércio clandestino, conhecida também por informal ou F2, leva à redução da produtividade, ao aumento da chance de incidência de doenças e pragas e à colheita de produtos de baixa qualidade, com alterações em características como tamanho, formato, sabor e tempo de prateleira.
Por isso, a ABCSEM (Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas) lançou a Campanha Nacional de Combate à Pirataria de Sementes de Hortaliças, com apoio do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O objetivo é conscientizar toda a cadeia sobre riscos e desestímulo à pesquisa.
O secretário executivo da ABCSEM, Marcelo Rodrigues Pacotte, afirma que observou aumento nos últimos anos no uso de sementes F2, principalmente no cultivo de melancias, melões e pimentões. “Sabemos que muitas vezes o produtor é enganado, porque os ilegais usam embalagens muito parecidas às originais, mas, depois do plantio, o resultado são frutos sem padrão, com alterações de cor, de sabor e de tamanho.”
Ainda sem dados consolidados, Pacotte diz que há estados em que as sementes informais chegaram a 50% da área plantada de melancia. “Vai chegar um momento em que todo o trabalho com pesquisa vai parar e as doenças que estavam controladas em uma região vão voltar, porque as sementes salvas não têm a mesma eficácia que as originais.”
O executivo considera que é o consumidor que leva a pior, por correr o risco até de comprar um produto com casca oca, o que afeta a relação com o ponto de venda. Por isso, cita que a campanha chegará aos pontos de venda. “A rede varejistas e atacadistas mostram muita preocupação com a rastreabilidade, se tem nota fiscal, se usou agrotóxico, mas não apresentam a mesma atenção em relação ao uso de sementes originais”, diz.
PROBLEMA CRÔNICO
Diretor da Abrates (Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes) e pesquisador da Embrapa Soja, José de Barros França Neto diz que a semente salva pelo produtor não é ilegal, ainda que obedeça regras que visam coibir o comércio ilegal. Porém, diz que nas culturas mais consolidadas como a de grãos, há risco de perda de 10% de produtividade já no plantio. “O produtor perde em germinação, na quantidade de plantas por área e na qualidade do produto”, cita. Por outro lado, lembra que as plantas de alto vigor têm até 25% de ganho na colheita. “É fazer economia com uma matéria-prima que representa menos de 10% do custo de produção.”
O secretário-executivo da Abrass (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja), Leonardo Machado, diz que o problema tem aumentado pela sensação de impunidade, pelo falso entendimento de economia no cultivo, pelas cotações mais baixas para alguns grãos e pela demora maior na liberação de crédito oficial. “Quem comercializa produto pirata está sujeito a penalidades de até 150% do valor que receberia e quem compra também é multado”, alerta.