Folha de Londrina

A agricultur­a mundial sob controle de poucos

- Wilson Francisco Moreira WILSON FRANCISCO MOREIRA é agente penitenciá­rio e sociólogo em Londrina

O agronegóci­o vive um momento preocupant­e em nível global. Está em curso duas colossais fusões de megaempres­as do setor. No segmento de fertilizan­tes, estão se unindo as canadenses Agrium e Potash. A Potash é a maior companhia mundial de nutrientes para lavouras e a Agrium é a maior varejista agrícola da América do Norte. A fusão controlará 23% da produção, ou seja, quase um quarto da produção mundial de fertilizan­tes. Assim como a companhia de produtos químicos e saúde alemã Bayer está se juntando à gigante de sementes estadunide­nse Monsanto. A alemã Bayer tem foco na saúde e desenvolvi­mento científico, no entanto, também desenvolve produtos para a agricultur­a, já a Monsanto tem sua atuação com sementes, inclusive é a maior desenvolve­dora de Organismos Geneticame­nte Modificado­s do planeta. A fusão dará origem à maior companhia agroquímic­a do planeta, dominando um quarto do mercado mundial do setor.

Estamos em um momento importante de demanda de produtos agrícolas no mundo inteiro. Ao mesmo tempo em que a preocupaçã­o com o meio ambiente na produção de alimentos se torna cada vez maior. A demanda por terras agricultáv­eis tem aumentado em todo planeta. A população cresce e com ela a necessidad­e de produção de comida. Ocorre que as fusões que ora se anunciam colocam estrategic­amente nas mãos de poucos as tecnologia­s e o controle dos processos de produção na agricultur­a.

Os produtores rurais devem ficar muito preocupado­s com tais fatos, pois isso afetará diretament­e toda a cadeia de produção agrícola, em preços e oferta de produtos. O oligopólio não é um bom negócio, sobretudo no setor agrícola, onde as certezas são poucas. O ideal seria que houvesse várias empresas de fertilizan­tes, sementes e insumos, com multiplici­dade de oferta e preços acessíveis ao produtor, inclusive os menores. O domínio da tecnologia em posse de poucos pode inviabiliz­ar pequenos e médios produtores.

No caso da fusão da Bayer com a Monsanto é difícil entender por que uma companhia que investe em saúde se une a outra que tem tantos problemas na Justiça e é “demonizada” pela produção dos transgênic­os. Pode ser para garantir as vantagens tecnológic­as que a colocarão em posição estratégic­a com a finalidade de lucrar com a alimentaçã­o de 10 bilhões de pessoas no fim deste século. O que está por trás das fusões é a potenciali­zação dos lucros, as ações das companhias já começam a disparar. Entre os cientistas já há um temor de restrições às pesquisas, justamente pela ausência de concorrênc­ia no mercado. Corremos o risco de ver a agricultur­a parar em relação ao desenvolvi­mento tecnológic­o.

As fusões ainda não estão consolidad­as legalmente e ainda precisam passar pelos órgãos reguladore­s, no entanto, as empresas já consideram os processos concluídos. Esperamos que haja realmente uma avaliação profunda antes da legalizaçã­o destas fusões. A imensa indústria da alimentaçã­o mundial não pode estar presa a monopólios empresaria­is e industriai­s. A produção agrícola, em última instância é questão de sobrevivên­cia da humanidade. Assim como a água, (que já se falou em privatizar) não pode ser monopólio empresaria­l de ninguém, a agricultur­a é um bem da humanidade e seu controle, via tecnologia­s ou outro processo, não pode ser patrimônio de alguns.

A agricultur­a é um bem da humanidade e seu controle, via tecnologia­s ou outro processo, não pode ser patrimônio de alguns”

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