A agricultura mundial sob controle de poucos
O agronegócio vive um momento preocupante em nível global. Está em curso duas colossais fusões de megaempresas do setor. No segmento de fertilizantes, estão se unindo as canadenses Agrium e Potash. A Potash é a maior companhia mundial de nutrientes para lavouras e a Agrium é a maior varejista agrícola da América do Norte. A fusão controlará 23% da produção, ou seja, quase um quarto da produção mundial de fertilizantes. Assim como a companhia de produtos químicos e saúde alemã Bayer está se juntando à gigante de sementes estadunidense Monsanto. A alemã Bayer tem foco na saúde e desenvolvimento científico, no entanto, também desenvolve produtos para a agricultura, já a Monsanto tem sua atuação com sementes, inclusive é a maior desenvolvedora de Organismos Geneticamente Modificados do planeta. A fusão dará origem à maior companhia agroquímica do planeta, dominando um quarto do mercado mundial do setor.
Estamos em um momento importante de demanda de produtos agrícolas no mundo inteiro. Ao mesmo tempo em que a preocupação com o meio ambiente na produção de alimentos se torna cada vez maior. A demanda por terras agricultáveis tem aumentado em todo planeta. A população cresce e com ela a necessidade de produção de comida. Ocorre que as fusões que ora se anunciam colocam estrategicamente nas mãos de poucos as tecnologias e o controle dos processos de produção na agricultura.
Os produtores rurais devem ficar muito preocupados com tais fatos, pois isso afetará diretamente toda a cadeia de produção agrícola, em preços e oferta de produtos. O oligopólio não é um bom negócio, sobretudo no setor agrícola, onde as certezas são poucas. O ideal seria que houvesse várias empresas de fertilizantes, sementes e insumos, com multiplicidade de oferta e preços acessíveis ao produtor, inclusive os menores. O domínio da tecnologia em posse de poucos pode inviabilizar pequenos e médios produtores.
No caso da fusão da Bayer com a Monsanto é difícil entender por que uma companhia que investe em saúde se une a outra que tem tantos problemas na Justiça e é “demonizada” pela produção dos transgênicos. Pode ser para garantir as vantagens tecnológicas que a colocarão em posição estratégica com a finalidade de lucrar com a alimentação de 10 bilhões de pessoas no fim deste século. O que está por trás das fusões é a potencialização dos lucros, as ações das companhias já começam a disparar. Entre os cientistas já há um temor de restrições às pesquisas, justamente pela ausência de concorrência no mercado. Corremos o risco de ver a agricultura parar em relação ao desenvolvimento tecnológico.
As fusões ainda não estão consolidadas legalmente e ainda precisam passar pelos órgãos reguladores, no entanto, as empresas já consideram os processos concluídos. Esperamos que haja realmente uma avaliação profunda antes da legalização destas fusões. A imensa indústria da alimentação mundial não pode estar presa a monopólios empresariais e industriais. A produção agrícola, em última instância é questão de sobrevivência da humanidade. Assim como a água, (que já se falou em privatizar) não pode ser monopólio empresarial de ninguém, a agricultura é um bem da humanidade e seu controle, via tecnologias ou outro processo, não pode ser patrimônio de alguns.
A agricultura é um bem da humanidade e seu controle, via tecnologias ou outro processo, não pode ser patrimônio de alguns”