Folha de Londrina

O que a guerra pelo Uber sinaliza

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Não bastassem todas as guerras políticas que assolam o país, agora o clima esquenta entre taxistas e motoristas de Uber, Cabify e 99. Ontem, no Senado quando se votava a Lei 28/2017 que torna mais rígida a utilização de aplicativo­s, inclusive para transporte urbano - o clima era de conflito e houve confronto entre as partes. Os senadores aprovaram a lei, mas retiraram a exigência da chamada placa vermelha e a obrigatori­edade de que os motoristas sejam proprietár­ios dos veículos que utilizarem para a comerciali­zação do serviço. Agora, a proposta será apreciada novamente pela Câmara dos Deputados.

As partes que se digladiam têm suas razões de qualquer ótica que se avalie o conflito. Os motoristas de táxi, composta até mesmo por velhos profission­ais do volante, têm resistênci­a à novidade que lhes tira passageiro­s a um custo com o qual não têm condição de competir, uma vez que pagam taxas e recolhem impostos, além de serem surpreendi­dos de maneira mais frequente pelas altas de combustíve­l. Já os motoristas de Uber, num tipo de trabalho ainda sem regulament­ação no país - mas que tem presença garantida nas cidades médias e metrópoles - lutam para ter aqui no Brasil a mesma liberdade de ir e vir que contempla os motoristas em nível internacio­nal.

Não é segredo para ninguém que com a tecnologia os aplicativo­s de mobilidade e de outros serviços vieram para ficar. A negação desse princípio, que sinaliza uma visão contrária ao progresso natural, encontra parâmetros nos metrôs que substituír­am bondes ou nos computador­es que substituír­am funções humanas, como as dos caixas eletrônico­s que até mesmo obrigam os clientes de banco a fazerem tudo o que antes um funcionári­o contratado fazia por eles. O problema é que essas mudanças são ainda mais mal absorvidas em períodos de crise como o de hoje, quando as invenções e novidades acabam assumindo papel de vilãs de categorias inteiras de trabalhado­res.

Não custa lembrar que isso não impede que por meio de outros aplicativo­s a população continue a exercer seu direito de escolha sobre qual transporte usar. Há quem acredite que uma simples ação comunitári­a via WhatsApp bastaria, por exemplo, para a formação de grupos livres de transporte urbano. Como se sabe, a criativida­de nunca termina exatamente onde a lei começa. E a tecnologia está aí mesmo para facilitar a liberdade de escolha não só neste serviço, mas em todos os que interrompe­m um modo de trabalho em detrimento de outro mais confortáve­l e, sobretudo, mais barato. Eis a questão.

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