Folha de Londrina

Duelo de titãs

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A discussão protagoniz­ada pelos supremos ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, em recente sessão plenária do STF, não é condizente com a postura de um juiz de Direito, cuja liturgia do cargo exige os atributos da impessoali­dade, da imparciali­dade, da urbanidade, da serenidade e das regras de boa educação preconizad­as pelos homens livres e de bons costumes. O ministro Gilmar Mendes errou ao se valer de ironias e de indiretas para comentar decisão soberana da lavra do ministro Luís Roberto Barroso. O ministro Barroso, por sua vez, errou ao aceitar as provocaçõe­s e reagir de forma virulenta às acusações sofridas, transforma­ndo publicamen­te a Suprema Corte de Justiça numa praça de duelos. O embate foi tão inesperado e surpreende­nte que deixou todos os seus pares atônitos, juntamente com a população brasileira e a comunidade internacio­nal. Ainda que a toga que cada um carrega sirva para representa­r a independên­cia e nivelar o poder que cada supremo ministro possui, não podemos esquecer que essa prerrogati­va não lhes dá o direito de desrespeit­ar o próximo e as suas convicções. Cabe aqui a seguinte fábula de Esopo: “Da casa em que se encontrava, um cabrito viu passar um lobo. Pôs-se a insultá-lo e a escarnecer­lhe. O lobo disse então: ‘O insulto não vem de ti, mas do lugar onde estás. Muitos deixariam de ser valentes diante dos fortes se não estivessem em lugar seguro!’”.

RICARDO LAFFRANCHI (advogado) - Londrina

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