Cresce número de crianças vítimas de acidentes de trânsito
Levantamento do Detran mostra que óbitos em 2016 aumentaram 13% em comparação a 2015
Em 2016, 35.286 acidentes foram registrados em rodovias e vias urbanas do Estado do Paraná, resultando em 46.488 vítimas e 1.682 óbitos. Entre os mortos, 99 eram crianças e adolescentes de zero a 17 anos de idade. Os dados foram computados pela Polícia Militar e pelas polícias rodoviárias federal e estadual e fazem parte de um levantamento do Detran (Departamento de Trânsito) do Paraná que tem como objetivo alertar os pais e responsáveis para a importância da conscientização dentro de casa para o sucesso do trabalho de prevenção e redução de acidentes nessa faixa etária.
Na comparação com 2015, o levantamento do Detran mostra que apesar de a quantidade de acidentes e de vítimas não fatais ter caído cerca de 5% e de o número de mortes ter ficado praticamente estável, em 2016 os óbitos de crianças e adolescentes cresceram 13% sobre o ano anterior. Em 2015, foram 87 óbitos de vítimas entre zero e 17 anos de idade.
“Quando a gente começa a conversar sobre vítimas e levantar esses números, os mais atingidos são sempre o idoso e a criança. As crianças se machucam mais ainda em função de atropelamentos. Há muitas vítimas em colisões entre veículos, mas o atropelamento causa maiores danos nessa faixa etária”, avaliou a chefe da Divisão da Coordenadoria de Programas Educativos do Detran-PR, Fabiana Curi.
“Qualquer número para nós é alto. A ideia é o ‘marco zero’, que os acidentes não aconteçam”, acrescenta.
OBateu(BoletimdeAcidentes de Trânsito Eletrônico Unificado), da Polícia Militar do Paraná, computou 382 atropelamentos no Estado em todo o ano de 2016 com vítimas entre zero e 17 anos de idade, com três mortes. Neste ano, até o último dia 10 de outubro, são 331 atropelamentos com vítimas nessa faixa etária e quatro mortes. Em Londrina, foram 13 atropelamentos de crianças e adolescentes em 2016 e 12 neste ano, de janeiro a outubro e não houve óbitos.
Curi defende que o atropelamento não pode ser tratado como um acidente inevitável. “Dificilmente houve algo que estava fora do controle do motorista ou do pedestre. Quase 100% desses acidentes poderiam ser evitados.”
Para trabalhar na prevenção e combate aos acidentes de trânsito, especialmente aqueles em que as vítimas são crianças e adolescentes, o Detran desenvolve projetos em escolas, direcionados às crianças do ensino fundamental 1. Mas Curi reforça que a família é o mais importante nesse processo porque os adultos que convivem com as crianças são a referência que elas têm de comportamento.
“Não adianta todo o trabalho de conscientização nas escolas se na hora em que a criança sai de casa o adulto que está com ela mantém um comportamento infrator. A criança para no sinal vermelho e o adulto puxa porque dá tempo de atravessar”, exemplifica.
Sem que pais e responsáveis se encarreguem da educação no trânsito de crianças e adolescentes, a chefe do Detran afirma que as atividades desenvolvidas pelo órgão estadual não terão o resultado esperado. “A gente forma indivíduos que aceitam as regras, mas se vêm de uma base onde as regras não são importantes e respeitadas, fica difícil.”
FROTA
Segundo o Detran-PR, os dados mais desfavoráveis relacionados ao trânsito no Es- tado concentram-se nos nove maiores municípios, lista que inclui Londrina. O Paraná também ocupa um lugar de destaque em uma classificação que está longe de ser motivo de orgulho. Apesar de não ser o quarto estado mais populoso do País, o Paraná ocupa a quarta colocação em número de mortes no trânsito, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, nesta ordem.
“Por muito tempo não se falou em educação no trânsito no Paraná e a frota de veículos no Estado explodiu nos últimos dez anos. E a frota explode junto com as infrações”, destaca Fabiana Curi. Há dez anos, havia 2 milhões de veículos automotores em circulação no Paraná. Atualmente, são 7 milhões, um aumento de 250%. Em Curitiba, há 1,5 veículo por habitante. “A gente só perde para Porto Alegre, onde tem 1,2 carro por pessoa. A gestão disso é muito complicada e enquanto o governo continuar aumentando o prazo de finan- ciamento para a compra de veículos, o crescimento da frota deve se manter.”
A solução, aponta Curi, seria retirar carros e motos dos papeis de protagonistas no trânsito e criar meios de estimular as pessoas a se locomoverem a pé, de bicicleta e utilizar mais o transporte público. “Mas é difícil conseguir políticas sérias nesse sentido porque ninguém se sente feliz quando falamos em diminuir o espaço para a circulação de veículos para aumentar as ciclovias, por exemplo”, reconhece Curi.
CADEIRINHA
Coordenadora Nacional da ONG Criança Segura, Gabriela Guida de Freitas afirma que a redução do número de crianças e adolescentes vítimas de acidentes vai além de ações voltadas à educação do trânsito. A educação nas escolas tem, sim, um papel fundamental na prevenção, reconhece ela, mas só um conjunto de medidas será capaz de baixar os índices apontados pelas estatísticas. “A educação na escola tem o desafio de ser de forma lúdica e também é preciso o envolvimento da família. Para estar segura no trânsito, a criança depende muito do adulto, que tem que comprar a cadeirinha, instalar corretamente, precisa de um envolvimento forte da família. A cadeirinha pode salvar a vida da criança em até 80% dos casos”, defende. “A gente não acredita tanto na educação de trânsito na escola, não dá tanto resultado. Tem que ser uma ação que envolva todo mundo. E outra falha na educação para o trânsito nas escolas é apontar a criança como o futuro motorista. A gente acha que é melhor incentivá-la a, no futuro, utilizar outros meios de transporte”, complementa.
Nesse conjunto de ações mais abrangentes, aponta Freitas, é essencial a participação do poder público, que deve garantir vias mais seguras e melhorias na sinalização. “A situação do Paraná é preocupante e isso precisa ser observado porque, no País, tem diminuído o número de mortes no trânsito.”