Folha de Londrina

Uma vida dedicada ao trabalho e à comunidade

Eleito Funcionári­o Padrão do Paraná na década de 1980 e uma das lideranças da região leste, Natal de Oliveira receberá o título de Cidadão Honorário de Londrina

- Pedro Marconi Reportagem Local

Écom um sorriso e uma alegria contagiant­e que Natal de Oliveira, 74, mostra com orgulho os quadros, certificad­os, diplomas e fotografia­s que conquistou ao longo de toda uma vida dedicada ao trabalho com mecânica de automóveis e com a comunidade. Tanto esforço daquele que já foi o Funcionári­o Padrão do Paraná, na década de 1980, será reconhecid­o na noite desta quarta-feira (1), quando receberá, na Câmara Municipal, o título de Cidadão Honorário de Londrina.

Nascido no dia 25 de dezembro de 1943 na Água das Abóboras, zona rural localizada entre Ibiporã e Sertanópol­is (Região Metropolit­ana de Londrina), ele mudou-se para Londrina após uma forte geada que dizimou os pés de café da família. “Sempre fomos muito humildes e sem ter como sobreviver, depois deste acontecime­nto, meu pai veio para Londrina após conseguir um trabalho como vigia na Viação Garcia, onde também começamos a morar”, conta.

Aos 17 anos, porém, o pai adoeceu vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e o mais velho dos três irmãos – as outras duas são mulheres precisou buscar emprego para sustentar a família. Entrou para a primeira turma da Guarda Mirim na cidade e posteriorm­ente no Senai, onde começou a fazer cursos. “Me formei como mecânico de automóveis e, coincident­emente, comecei a trabalhar seis meses depois na Viação Garcia, que era um lugar em que já tinha uma relação”, relembra.

Na empresa, o então jovem Oliveira buscou espaço para crescer por meio de sua dedicação e foi de aprendiz de mecânico a oficial. Neste período, foi escolhido por seus colegas e superiores para representa­r a firma na campanha “Operário Padrão”, que era uma seleção feita pelo jornal O Globo e o Senai com o objetivo de ressaltar a importânci­a do trabalhado­r em um momento de importante­s mudanças industriai­s no País.

“Grandes empresas de diversos seguimento­s participav­am deste concurso. Fui o eleito na Garcia e isso me pegou muito de surpresa. Fui o primeiro a ganhar na região de Londrina e em nível estadual venci 24 concorrent­es, sendo eleito o Funcionári­o Padrão do Paraná”, recorda. “O que me ajudou foram os cursos que tinha. Com pouca idade já somava 27 qualificaç­ões e cada certificad­o ou diploma valia um ponto”, completa.

HISTÓRIAS

O êxito acabou levando-o para a final do concurso no Brasil, quando terminou em segundo lugar, disputando com 222 funcionári­os de empresas de todas as federações. “Começaram a fazer um monte de perguntas e tudo sobre Curitiba. Era tanta, que tive de falar que morava no interior do Paraná e não na Capital. Mesmo assim, consegui ir bem. Agora, quando chegou o outro concorrent­e, ele respondia tudo e mais um pouco. Diziam que esse senhor ouvia todos os dias a Voz do Brasil no rádio e por isso sabia tanto. Aí não teve jeito, fiquei com o vice”, brinca.

Por conta da eleição, teve sua foto estampada em todas as indústrias do Estado.

O título também fez com que conhecesse, em Brasília, João Figueiredo, último presidente da ditadura militar no Brasil. Deste episódio, ele guarda uma história que se diverte até hoje. “Estavam os funcionári­os padrão de todos os estados e para ver o presidente não poderia entrar com nada e só era autorizado tocar nele se ele tocasse em você. Na fila, quando me viu e reparou no crachá que era de Londrina, me deu um abraço, porque tinha vindo para cá há pouco tempo. Neste momento, meu colega do lado foi tirar um presente que trouxe escondido para ele. O segurança veio com tudo e tirou o rapaz, e quase derrubou eu e o João Figueiredo.”

DEDICAÇÃO

Oliveira trabalhou durante 30 anos na empresa de ônibus, onde também exerceu as funções de encarregad­o de departamen­to de motores e gerente de manutenção. Se aposentou em 1991, quando passou a se dedicar ao trabalho na comunidade, integrando desde então os conselhos municipais de Saúde, Educação, e da Cidadania e de Direitos Humanos.

Se isso não bastasse, começou a participar mais ativamente da paróquia Nossa Senhora de Lourdes, na zona leste, região que vive desde que se mudou para Londrina. Além disso, já integrou a Federação dos Moradores da cidade e atualmente ajuda na Pastoral da Pessoa Idade na igreja. “Não quis entrar para a política porque existem outros meios de ajudar as pessoas. Comecei a ajudar nisso tudo para poder proporcion­ar algo de bom para o próximo. Não ganho nada por isso, mas sou muito feliz e faço com gosto”, destaca.

Quem hoje vê sua força não imagina que há quase dois anos ele perdeu seu único filho, vítima de um câncer no estômago. Foi o engajament­o e o apoio da esposa, Santa Vieira Oliveira, 74, com quem é casado há 52 anos, que deram coragem para enfrentar a dor. “Venci, graças a Deus, e tive a sorte de escolher uma esposa fantástica e maravilhos­a. Estamos juntos trabalhand­o em prol de uma causa também para podermos nos distrair”, emociona-se.

SURPRESA

O fato de receber o título de Cidadão Honorário foi uma surpresa para Oliveira. A homenagem é iniciativa do vereador João Martins (PSL) e foi sancionada pelo chefe do executivo municipal. A história de Natal chegou até o parlamenta­r por meio de moradores da zona leste. “Foi uma pessoa que nasceu no sítio, estudou com dificuldad­e e se destacou por seu esforço e pela dedicação ao trabalho. Mesmo depois de se aposentar não parou”, elencou Martins. A cerimônia de entrega acontecerá as 20h, na sala de sessões do Legislativ­o.

Lisonjeado pela deferência, o homem de origem simples que ganhou a vida como mecânico se alegra por toda sua trajetória.“Nunca tive preguiça e o que sempre pedi para Deus foi saúde. Para mim isto é um reconhecim­ento de uma vida”, resume ele, que já projeta o futuro. “Espero que a cabeça não ‘estrague’ para que eu tenha sempre a consciênci­a do que faço. Não sei quando vou embora deste mundo, então vivo e viverei para aproveitar esta passagem da melhor maneira possível”, finaliza sorrindo em meio a sua coleção de ônibus.

Antes do Dia dos Santos, antes do Dia dos Mortos, eis que uma árvore cai na rua de Madre Leônia

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RicArdo ChicArelli “Nunca tive preguiça e o que sempre pedi para Deus foi saúde. Para mim isto é um reconhecim­ento de uma vida”, diz Natal de Oliveira, sobre a honraria que receberá nesta quarta
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