Folha de Londrina

Árvore no meio do caminho

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Novembro começa com o Dia dos Santos e o Dia dos Mortos, mas para mim começou antes, com a enorme árvore arrancada pelo vento de sua raiz e caída no meio da rua de minha santa.

Assim Madre Leônia escreveu saudando novembro de 1975, ano da geada negra:

“Aceita, ó meu Senhor, a oferta deste penúltimo mês do Ano Santo: pela Igreja, por minha renovação e pelas almas do purgatório.

Do berço ao túmulo, breve é o passo... Tudo termina, tudo é transitóri­o. Deus somente me basta!”

As palavras de Leônia poderiam constituir uma legenda para a foto da árvore caída no comecinho da avenida que leva seu nome. Todos os dias eu passo por esse lugar, às vezes com meu filho. Felizmente, a queda abrupta da árvore não parece atingiu ninguém, além dos fios de eletricida­de.

Tinha uma árvore no meio do caminho. Em novembro de 2000, eu me dirigia de táxi a uma reunião política no alto da Avenida Higienópol­is, quando uma outra árvore caiu, por muito pouco não atingindo a minha cabeça. Lembro-me da cena até hoje: na esquina da Rua Piauí, a árvore caiu como se tivesse recebido um golpe de machado. Olhei para o taxista, que estava lívido. Agradeci a ele pela freada que nos salvou.

Certamente Deus estava querendo dizer alguma coisa com a queda daquela árvore há 17 anos. Ele sempre se manifesta pelas árvores: basta lembrarmos a Árvore da Vida, a Sarça Ardente e a Árvore que Sangra — também chamada Cruz.

Hoje eu sei que deveria ter dado meiavolta e esquecido para sempre aquela reunião política em 2000. Houvesse feito isso, teria deixado de perder muito tempo na vida com assuntos irrelevant­es, que nada significam na perspectiv­a da eternidade. Mas, naquela época, eu ainda era um tolo. Talvez continue sendo — mas pelo menos

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PAulo Briguet

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