Folha de Londrina

Excesso de leis dificulta o cumpriment­o e a fiscalizaç­ão

Políticos e juristas concordam que torna-se impossível cumprir e fiscalizar as 45 mil leis e as 5,7 milhões de normas existentes no Brasil. “Tudo que acontece aqui querem resolver criando-se leis”, critica o secretário-geral da OAB Londrina, José Carlos V

- Guilherme Marconi Reportagem Local

Interpreta­ndo à risca o artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil conclui-se que, depois de publicada, a lei passa a ser obrigatóri­a para toda a coletivida­de. Uma das premissas do direito é que nenhum cidadão pode deixar de cumprir uma lei alegando desconhecê-la. No entanto, nem mesmo o mais profundo conhecedor da área é capaz de saber as mais de 45 mil leis vigentes no Brasil nas esferas municipal, estadual e federal.

De acordo com levantamen­to feito na Câmara Municipal de Londrina, são 12.576 leis municipais vigentes na cidade. No Paraná, existem 19.099 leis estaduais. Com base nesse último cálculo foi formada, em setembro, na Assembleia Legislativ­a do Paraná, uma Comissão de Revisão e Consolidaç­ão das Leis, presidida pelo deputado estadual Tiago Amaral (PSB), de Londrina, que tem o objetivo de reduzir 30% da legislação.

Para Amaral, esse amaranhado de leis é resultado de uma ‘postura histórica’ que avaliava a produtivid­ade de um parlamenta­r pela quantidade de leis que ele apresentav­a. “Ao contrário da aparente boa intenção de um parlamenta­r em criar leis, com esse excesso de leis criase uma falsa expectativ­a de direito, o que só aumenta o descrédito nos políticos e nas instituiçõ­es.”

Na mesma linha, o diretorsec­retário-geral da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), subseção Londrina, José Carlos Vieira, critica a maneira como as instituiçõ­es tentam resolver os problemas fundamenta­is do País. “Tudo que acontece aqui querem resolver criando-se leis, como se fosse a única solução. Entretanto, as soluções nunca são pensadas a partir das causas e sim pelos efeitos”, ressalta.

O excesso de leis provoca prejuízos ainda mais graves na economia. Segundo estudo realizado pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamen­to e Tributação), foram editadas quase 5,7 milhões de normas (portarias, resoluções, decretos, etc), uma média de 798 por dia útil, desde outubro de 1988 a partir da Constituiç­ão Federal. Ainda de acordo com o levantamen­to, na área tributária, foram editadas 377.566 normas ou 1,92 norma tributária por hora (dia útil).

Também foram aprovadas 16 emendas constituci­onais, além de inúmeros tributos criados como CPMF, Cofins, Cide, CIP, CSLL, PIS Importação, Cofins Importação, ISS Importação.

O termo ‘direito’ aparece em 22% das normas editadas, Saúde, educação, segurança, trabalho, salário e tributação são temas que aparecem em 45% de toda a legislação. No entanto, somente 4,13% das normas editadas no período não sofreram nenhuma alteração.

Para o advogado, esse excesso de legislação reflete diretament­e no “custo Brasil” principalm­ente na área do direito tributário. “É humanament­e impossível para qualquer empresário acompanhar esse volume absurdo de leis, decretos, normas que são criados a cada dia”, ressalta Vieira, lembrando que as empresas acabam tendo que investir cada dia mais em consultori­a jurídica para atender à demanda de leis. “Obviamente, esse custo é repassado para o consumidor lá na ponta.”

POUCA EFETIVIDAD­E

Em Londrina, por exemplo, das 111 leis sancionada­s pelo prefeito Marcelo Belinati (PP) em 2017, 65 têm pouco impacto na vida da população como um todo. São títulos de utilidade pública para entidades e de cidadão honorário. A instituiçã­o dos dias do Skate, da Música e da Pesquisa Agropecuár­ia estão entre elas.

Outras leis também, apesar da boa intenção, acabam esbarrando num entrave: a fiscalizaç­ão. É o caso da lei 12.562, promulgada em setembro, que proíbe o uso de telefone celular, rádio de comunicaçã­o no interior das agências bancárias. A multa prevista é de R$ 2 mil para a agência que não colocar cartazes de alerta. “Esse tipo de iniciativa é uma perda de tempo, de dinheiro público, não reverte em solução nenhuma, em benefício à população. Além disso, gera despesas, custos e enorme gasto público”, avalia o advogado.

Apesar disso, Vieira considera que a atividade legislativ­a tem uma “importânci­a enorme” e sugere que os parlamenta­res, em geral, deveriam concentrar suas energias na fiscalizaç­ão do Executivo. “Não existe democracia sem Legislativ­o, mas a questão é de consciênci­a. O legislador deveria pensar melhor quando pensa em elaborar qualquer lei. Ele deveria discutir mais com a sociedade, ver a relevância do tema levantado e quais os reais benefício para população”, pondera Vieira.

Comissão da Assembleia Legislativ­a vai rever mais de 19 mil leis estaduais

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