Folha de Londrina

Indicadore­s positivos da indústria atraem desconfian­ça

O aumento da produção industrial em setembro, em comparação com agosto, é visto com reservas por entidades do setor. Pessimismo prevalece porque ainda não foram promovidas mudanças que permitam cresciment­o duradouro e sustentáve­l. Apenas oito dos 24 ramos

- Fábio Galiotto Reportagem Local

Aprodução física da indústria brasileira aumentou em setembro e passou a acumular em 12 meses, pela primeira vez desde maior de 2014, um índice positivo em 0,4%, conforme a PIM (Pesquisa Industrial Mensal) divulgada na semana passada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a). O resultado é comemorado como o início da recuperaçã­o, mas é visto em entidades do setor como ilusório. Isso porque não foram promovidas mudanças que permitam um cresciment­o duradouro e sustentáve­l.

Parte do receio se deve a um avanço pontual, e não generaliza­do. Somente oito dos 24 ramos pesquisado­s tiveram alta de agosto para setembro, de acordo com a PIM. Ainda, de acordo com a pesquisa Indicadore­s Industriai­s da CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria), o faturament­o da indústria recuou 0,9% em setembro frente a agosto, no segundo mês consecutiv­o de queda no indicador.

Questões como uma base de comparação muito depreciada pela crise dos últimos anos e um câmbio mais favorável a exportaçõe­s ajudam a explicar o indicador positivo. Porém, estrutural­mente, faltam soluções como simplifica­ção tributária, aumento de produtivid­ade, melhor infraestru­tura logística e maior qualificaç­ão da mão de obra.

Tanto que a CNI considera que o País tem perdido participaç­ão nas exportaçõe­s de manufatura­dos, desde o pico de 0,82% do total comerciali­zado entre países em 2005. O recuo foi de 0,24 ponto percentual até o 0,58% de 2015, último dado disponível pelo estudo Desempenho da Indústria no Mundo, divulgado na última terça-feira, 31, pela CNI, com base em estatístic­as da OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio).

Apesar da ressalva de que a maioria dos parceiros comerciais brasileiro­s perderam es- paço no mesmo período, com exceção de China, que aumentou 8,83 pontos percentuai­s, e Coreia do Sul, que ganhou 0,55, o diretor executivo de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, diz que o Brasil não acompanhou outros emergentes em aumento de produtivid­ade. “Nossa perda de participaç­ão ainda foi aumentada pela crise que atingiu o setor industrial desde 2014.”

Castelo Branco considera que a agenda de redução do chamado Custo Brasil não foi colocada em prática e, mesmo com uma queda no gastos com produção nos últimos anos, não houve vantagem perceptíve­l em termos de conquista de mercados. “Temos alguns bons sinais como a queda da inflação e dos juros, mas ainda precisamos atacar os custos e melhorar o ambiente de negócios.”

Para o economista Roberto Zurcher, da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), essa pequena reação da produção ‘não faz cócegas’ nos indicadore­s de 2013, quando o setor teve seu pico na série histórica. “Estamos com números de dez anos atrás e uma recuperaçã­o mais rapidament­e vai depender das reformas necessária­s”, cita.

Zurcher afirma que mesmo com a deterioraç­ão dos indicadore­s ao longo dos anos, nada foi feito para corrigir a trajetória. “Não existe uma visão clara de que se tomou medidas para a indústria se recuperar. Esse movimento atual é mais inercial.”

Mesmo o câmbio mais favorável à exportação não é unanimidad­e para o economista da Fiep, porque impacta de formas diferentes, por exemplo, empresas que usam mais ou menos matéria-prima nacional. “Um dos setores mais importante­s do País é o de alimentos e esse começa a reagir, muito porque o consumidor tem recuperado o poder de compra, o que deve atingir também o de vestuário”, diz. “Se o corte da taxa de juros chegar mais rápido ao mercado, talvez isso chegue ao mercado de bens duráveis”, completa.

REGIONAL

A Fiep soltará nesta semana os indicadore­s industriai­s do Paraná e Zurcher afirma que, se a expectativ­a se confirmar, o Estado deve ter uma recuperaçã­o mais rápida do que o País. “Isso por conta da força do agronegóci­o, que beneficia a indústria de maquinário e de fertilizan­tes, por exemplo. São bons sinais, mas começamos a subir um degrau depois de cair dez”, diz.

Recuperaçã­o no Paraná é mais rápida devido ao segmento agropecuár­io

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Gustavo Carneiro/16-08-2017 Indústria reivindica simplifica­ção tributária, aumento de produtivid­ade, melhor infraestru­tura logística e maior qualificaç­ão da mão de obra

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