Folha de Londrina

Minha nota zero

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1. Para a ministra dos Direitos Humanos, receber um salário de R$ 33,7 mil é “trabalho escravo”.

2. Os chefões da educação brasileira — uma das piores do mundo — querem dar nota zero ao candidato que “ofender os direitos humanos” na redação do Enem.

Essas duas notícias, combinadas, me levam a algumas reflexões:

Se eu fosse um candidato do Enem e escrevesse que a solução para acabar com a injustiça salarial no Ministério dos Direitos Humanos é acabar com o Ministério dos Direitos Humanos, levaria nota zero?

Se eu fosse um candidato do Enem e escrevesse que o maior inimigo dos direitos humanos desde que o termo foi inventado é o totalitari­smo, e que dentre todos os totalitari­smos o mais assassino é o comunista, levaria nota zero?

Se eu fosse um candidato do Enem e escrevesse que as três grandes forças que disputam o poder mundial — globalismo, comunismo e califado — representa­m a continuida­de do sistema escravocra­ta no mundo contemporâ­neo, levaria nota zero?

Se eu fosse um candidato do Enem e escrevesse que os maiores exemplos de desrespeit­o aos direitos humanos em nosso continente, na atualidade, são Cuba e Venezuela, levaria nota zero?

Se eu fosse um candidato do Enem e escrevesse que a educação brasileira merece ter por patrono o sr. Paulo Freire, uma vez que as escolas e universida­des se transforma­ram em máquinas de produção em massa de analfabeto­s funcionais e militantes políticos, levaria nota zero?

Se eu fosse um candidato do Enem e escrevesse que a jovem Kelly Cristina Cadamuro, de 22 anos, assassinad­a após pegar uma carona em um grupo de WhatsApp, foi vítima da extrema leniência da Justiça brasileira para com os bandidos, levaria nota zero?

Se eu fosse um candidato do Enem e escrevesse que o assassino confesso de Kelly, Jonathan Pereira do Prado, acusado de cometer sete tipos diferentes de crimes (furto, roubo, estelionat­o, extorsão, ameaça, lesão corporal, apropriaçã­o e uso de moeda falsa) e foragido após receber o benefício de uma “saidinha” da cadeia, não teria cometido o crime se estivesse onde deveria estar (isto é, na cadeia), levaria nota zero?

Se eu fosse um candidato do Enem e escrevesse que a política de desarmamen­to da população civil revelou-se um completo fracasso, pelo fato de que um brasileiro é assassinad­o a cada nove minutos, levaria nota zero?

Se eu fosse um candidato do Enem e escrevesse que os direitos humanos dos policiais estão entre os mais desrespeit­ados em nosso país, levaria nota zero?

Se eu fosse um candidato do Enem e escrevesse que defender os direitos humanos não deve ser confundido com defender os direitos dos manos, levaria nota zero?

Sim, eu levaria nota zero. E você também. Pois zero é a importânci­a que as elites políticas do Brasil dão à opinião de mortais comuns como eu e você, caro leitor. Somos zeros à esquerda.

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