Folha de Londrina

Do livro para o teatro

- Folhapress

São experiênci­as e descoberta­s de uma criança, mas narradas em tom adulto, quase filosófico. “Nu de Botas”, livro de Antonio Prata, foi adaptado para um espetáculo teatral que já percorreu o Brasil e fez muito sucesso entre o público-mirim.

Ao versar o livro para o palco, a diretora Cristina Moura partiu de um preceito: apesar de serem narrados em primeira pessoa por uma criança, aqueles relatos tinham tamanha carga filosófica que requeriam um falar adulto. Assim, os cinco atores se revezam como protagonis­tas e personagen­s secundário­s sem mimetizar vozes infantis.

“Quase todos os contos tratam de dilemas”, diz ela, que adaptou o texto com Pedro Brício, integrante do elenco. Como o trecho em que a criança, quando passeia com os pais de um coleguinha, teme dizer àqueles “estranhos” da vontade de ir ao banheiro: “Eu não sabia se todas as pessoas faziam cocô ou se aquele era um problema meu”.

Para Brício, Prata expõe com essa filosofia infantil “quão patéticas e arbitrária­s” são algumas convenções sociais a que sujeitamos.

“A minha ideia foi fazer a habilidade narrativa e verbal de um adulto, mas o pensamento maluco de uma criança”, conta o escritor e colunista da Folha de S.Paulo, que teve a ideia para o livro quando foi convidado a voltar à escola de sua infância e ali lhe voltaram lembranças da época.

Na adaptação, foram selecionad­os 17 contos da obra. Alguns são encenados na íntegra, outros com cortes. Também foi trocada a ordem dos textos. Na peça, as histórias são agrupadas por temas, como família, amigos e curiosidad­es sexuais, afirma Brício.

A encenação de Moura, que tem um histórico de dança (integrou a companhia belga Les Ballets C de La B) e performanc­e, vai por um caminho diferente dos trabalhos anteriores da diretora. Em “Nu”, ela dá mais espaço à palavra; os atores narram as histórias quase como se conversass­em com o público.

O cenário simples tem alguns poucos elementos, como cadeiras e bancos. Cobertos de papel craft, os elementos vão sendo revelados ao longo do espetáculo.

“Acho o livro muito imagético, quase cinematogr­áfico”, diz a diretora. “Queria criar na peça a mesma sensação que tive ao ler o livro: poder imaginar as cenas.” É como permitir ao público a capacidade de fabulação de uma criança.

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Reprodução Espetáculo adapta o livro Nu, de Botas, de Antonio Prata, de memórias infantis para o palco
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