Folha de Londrina

LUIZ GERALDO MAZZA

Governo, quase sempre, ainda que tente sugerir o contrário, é o problema.

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Apropriaçã­o induzida

Insisto na tecla de que os governos, de um modo geral, se apropriam indevidame­nte dos indicadore­s macroeconô­micos como se eles, é claro quando virtuosos, expressass­em o seu comportame­nto. Esse levantamen­to mais recente da Confederaç­ão Nacional dos Transporte­s sobre a condição das rodovias brasileira­s o comprova de forma fulminante: no Paraná, que até via consorciad­as do pedágio tem boa atuação na área, o percentual de ótimas ou boas caiu 5,3 pontos entre 2016 e 2017. Do Paraná, entre as públicas, só 26,8% tinham condições boas no ano passado e agora são apenas 20,5%. Também nas pedagiadas o índice que era de 67,7% caiu para 64,2%.

É claro que ao governo para manter a autoestima da população e criar um clima de otimismo deve projetar os bons números, sejam econômicos ou sociais, mas evitando a falácia de que é a causa de tudo. O governo, quase sempre, ainda que tente sugerir o contrário, é sempre o problema, jamais a solução.

Se num setor chave como o da infraestru­tura há tantos pontos de estrangula­mento, tal qual expressa o levantamen­to da CNT, percebe-se que na questão dos transporte­s ele falha como também na dos portos e aeroportos. Nesses levantamen­tos gerais sobre renda e mercado de mão de obra é feita a mesma apropriaçã­o. Na diferença de desempenho entre estradas sob concessão e as de responsabi­lidade estatal percebe-se a dimensão da incúria.

Suspeição

Novamente, e agora no episódio do sítio de Atibaia, a defesa do ex-presidente Lula tenta constrange­r o juiz Sérgio Moro com a suspeição, já levantada em outros casos e derrubada pelo TRF4 que a apreciou. O quadro cênico de Atibaia é o mesmo do tríplex na comprovaçã­o da ausência de limites entre o público e o privado com empreiteir­as, beneficiár­ias de contratos bilionário­s, dando uma colher de chá ao presidente ou a seus amigos e parentes.

Previdênci­a

A declaração pessimista do presidente Michel Temer sobre a reforma previdenci­ária como inviável de se dar sob o seu governo teve resposta imediata na Bolsa que caiu 2,55% anteontem e, mesmo com a reação do ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não melhorou os humores do mercado. Meirelles foi contundent­e ao explicar didaticame­nte ao presidente que essa reforma não é uma escolha, uma opção, mas uma imposição da situação do país fiscalment­e quebrado.

Se a energia para salvar-se com as negociaçõe­s, praticamen­te um a um dos deputados, que derrubaram as duas denúncias, fosse empregada na causa das reformas ficaria mais atento com o que sinaliza para o mercado, até aqui seu maior sustentácu­lo.

E a Magirus?

Dois últimos incêndios em Curitiba, especialme­nte o de ontem que ocorreu no último andar de um edifício central, mostraram o quanta falta faz uma escada Magirus em ocorrência­s nas alturas. O informe era de que o equipament­o do Corpo de Bombeiros estaria sob reparos, há mais de um ano, no exterior. A crise de Estado é assim: ela tem o poder da ubiquidade e aparece nas deficiênci­as operaciona­is e também nas menores coisas.

Júri

Finalmente, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o acidente que matou dois jovens provocado pelo ex-deputado Ribas Carly vai a júri, O advogado de acusação, Elias Mattar Assad, entende que o júri deve ser marcado para o primeiro semestre de 2018. Aliás, o processo de delongas mostra o quanto a legislação favorece essa procrastin­ação, velho rumo brasileiro para a impunidade e a prescrição processual. De outro lado, a delonga acaba também colocando mal o acusado que a cada notícia do assunto é julgado, cada vez com severidade maior, pela opinião pública. Os oito anos de demora atingem os que esperam justiça, mas também aquele que vai ser julgado.

Racha

O processo contra a vereadora Katia Dietrich, acusada de forçar seus assessores a um racha na grana recebida, teve andamento ontem pelo órgão processant­e na Câmara Municipal de Curitiba com o depoimento de três denunciant­es. Se escapar do conselho municipal, acaba enfrentand­o o Ministério Público atento ao tema. No caso histórico, o único até hoje, preso e condenado, do vereador Custódio da Silva, que chegou a eleger-se deputado, a vigilância maior foi do Ministério Público.

Ausência

A despeito do inegável peso econômico do Paraná e da forma como o seu governador Beto Richa foi eleito e reeleito em primeiro turno, surpreende nossa ausência política no respeitant­e aos rumos do PSDB nacional. Até agora tivemos um prurido na manifestaç­ão crítica de Valdir Rossoni, chefe da Casa Civil, no caso Aécio Neves e mais nada. Andamos a reboque, há muito, de São Paulo.

Folclore

Raramente, se dá isso no Tribunal de Contas: estava para ser analisada a gestão de 2016 quando houve, o que nunca tinha acontecido antes, um pedido de vista do conselheir­o Ivens Linhares. Como é da área técnica e rigoroso nas intervençõ­es, gerou clima de suspense. O TC no máximo adverte e raramente há voto pela rejeição o que só isoladamen­te ocorre.

Na diferença de desempenho entre estradas sob concessão e as de responsabi­lidade estatal percebe-se a dimensão da incúria”

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