Folha de Londrina

Wesley Batista afirma que delatores são perseguido­s

Mesmo pressionad­o por membros da CPMI, um dos donos da JBS não respondeu qualquer pergunta e preferiu ficar em silêncio

- Agência Brasil (Com Folhapress)

Brasília - Durou pouco mais de duas horas a reunião da Comissão Parlamenta­r Mista de Inquérito (CPMI) da JBS marcada para ouvir Wesley Bastista, um dos donos da empresa. Mesmo pressionad­o por senadores e deputados, orientado por advogados, Wesley não respondeu a qualquer pergunta, resguardad­o pelo direito constituci­onal de ficar em silêncio. A mesma conduta foi adotada pelo ex-executivo da empresa Ricardo Saud, na semana passada.

Apesar de não ter respondido a perguntas, Wesley Batista fez uma declaração aos parlamenta­res. Ele disse que tornarse um colaborado­r não é uma decisão fácil; é solitário, dá medo e causa muita apreensão.

“O que vejo, nesse momento que estamos vivendo no país, são colaborado­res sendo punidos, perseguido­s pelas verdades que disseram. As delações dos últimos anos fizeram o país se olhar no espelho, mas, como ele não gostou do que viu, o resultado tem sido esse: colaborado­res presos e delatados soltos”, afirmou.

Wesley e o irmão Joesley Batista e mais cinco diretores da JBS firmaram em maio um acordo de delação premiada com a PGR (Procurador­ia Geral da República), com a garantia de imunidade. Wesley, porém, foi preso acusado de ter se aproveitad­o da colaboraçã­o para lucrar no meio de uso de informaçõe­s privilegia­das no mercado. Joesley e o diretor Ricardo Saud também foram presos, acusados de omitir informaçõe­s durante o processo de colaboraçã­o.

“Estou sendo preso por um crime que jamais cometi. Jamais descumpri o acordo de colaboraçã­o celebrado com o MPF”, declarou. Wesley disse ter descoberto que o processo de se tornar delator é “imprevisív­el e inseguro”.

Mesmo declarando que ficaria em silêncio, a CPI da JBS decidiu que ele teria de ficar na sessão até o final. Alguns parlamenta­res chegaram a fazer perguntas, que foram todas respondida­s da mesma forma: “Vou permanecer calado”. Deputados e senadores questionar­am Wesley sobre a participaç­ão do ex-procurador Marcello Miller no processo de delação premiada.

Diante da negativa de executivos da JBS em prestar esclarecim­entos à CPMI, o presidente da comissão, senador Atáides Oliveira (PSDB -TO), adiantou que uma das recomendaç­ões que serão feitas ao final dos trabalhos é a rescisão do acordo de colaboraçã­o premiada dos irmãos Batista e de Ricardo Saud com o Ministério Público Federal.

“Essa colaboraçã­o desastrosa dos irmãos Batista só aconteceu porque teve um maestro, um cérebro maior que foi exprocurad­or [da República] Marcelo Miller”, acrescento­u Ataídes Oliveira, destacando que também vai solicitar que o pedido de prisão dele também seja revisto.

Marcelo Miller, que teve um pedido de prisão negado pelo relator da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Edson Fachin, é o pivô da investigaç­ão que pode culminar com a rescisão da delação da JBS. Após deixar o Ministério Público Federal, ele passou a integrar o escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, e fez parte do time de advogados que negociaram o acordo de leniência da J&F, controlado­r da JBS. Miller ainda estava no Ministério Público quando começou a conversar com os executivos, no final de fevereiro.

Essa colaboraçã­o desastrosa dos irmãos Batista só aconteceu porque teve um cérebro maior que foi ex-procurador [da República] Marcelo Miller”

PRÓXIMOS PASSOS

Mesmo coma recusa dos convocados a falar na CPMI, a comissão vai manter o calendário de oitivas previstas. No dia 22, deve ser ouvido o exchefe de gabinete da Procurador­ia-Geral da República Eduardo Pelella, que era considerad­o braço direito do então procurador-geral Rodrigo Janot. Em setembro, Miller foi convidado a comparecer à comissão, mas não atendeu ao pedido. Agora, a presença dele é obrigatóri­a.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil “As delações fizeram o Brasil se olhar no espelho, mas, como ele não gostou do que viu, o resultado tem sido esse: colaborado­res presos e delatados soltos”, afirmou Wesley Batista

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