Debate e acolhimento à diversidade
UEL promove evento para divulgar iniciativas de combate à discriminação
No momento em que demonstrações de intolerância social, racial, de gênero e religiosa e atos de desrespeito às minorias parecem crescer, o ambiente acadêmico surge como um espaço de debate e acolhimento à diversidade. Nesta quinta (9) e sexta-feira (10), a UEL (Universidade Estadual de Londrina) promove a Semana da Memória e das Diversidades, organizada para divulgar as iniciativas da instituição no combate à discriminação e preconceito de qualquer natureza e promover a integração e a convivência harmoniosa entre os diferentes grupos. O evento acontece no CCH (Centro de Ciências Humanas), no campus universitário, das 10 às 19 horas.
“A ideia é promover as diferentes identidades e o campo de diversidade perene dentro da universidade, divulgando as atividades acadêmicas e os projetos de extensão”, explicou Fábio Lanza, um dos coordenadores do evento e professor do Departamento de Ciências Sociais. O objetivo, disse ele, é incluir a Semana da Memória e das Diversidades no calendário da instituição e que nos próximos anos as atividades se estendam realmente por uma semana inteira. Nesta primeira edição, colaboraram com o CCH os acadêmicos do CCA (Centro de Ciências Agrárias), Cesa (Centro de Estudos Sociais Aplicados) e Ceca (Centro de Educação, Comunicação e Artes).
“A intenção é que todos os grupos aqui representados sejam ouvidos com a legitimidade social que eles possuem”, destacou a museóloga Gina Issberner, responsável pelo espaço CCH Cultural. “A riqueza que temos na nossa região vem da diversidade e a diversidade merece respeito”, acrescentou Ronaldo Baltar, que também atua na coordenação das atividades.
Entre os grupos representados no evento estão os índios kaingang do Território Indígena do Apucaraninha, em Tamarana (Região Metropolitana de Londrina), os produtores rurais do Assentamento Eli Vive, no distrito de Lerroville (zona sul), e os artesãos que expõem os seus trabalhos no Calçadão. O público também pode conferir a mostra de orquídeas cultivadas no Orquidário do CCA, a exposição Des-Dobráveis, da artista Kim Nobille, e a reapresentação da mostra Corpo e Religiões, de autoria do professor Marco Soares, do Departamento de História.
A programação incluiu ainda a apresentação de dança kaingang com o Grupo Nen Ga, de choro, com o Regional Maria Boa, e o grupo Maracatu Sementes de Angola, que nesta sexta-feira sairá em cortejo do Restaurante Universitário até a Casa do Pioneiro, ao meio-dia, pelo respeito às diversidades.
A produtora rural Sandra Ferrer, do assentamento Eli Vive, disse que a venda da produção levada ao campus da UEL ficou em segundo plano durante o evento. “Estamos aqui para divulgar nosso trabalho, que é um produto da reforma agrária, e mostrar que estamos produzindo comida boa e de qualidade.” O assentamento abriga 501 famílias, todas empenhadas no trabalho da produção de alimentos. “A UEL realiza um trabalho bem legal com a gente, de orientação e capacitação do grupo Camponesas do Eli Vive, formado pelas companheiras do assentamento que estão organizadas no movimento da agroecologia. Temos a sacola agroecológica e toda semana entregamos sete produtos aos apoiadores da UEL, ”, explicou.
O assentado Edelvan Carvalho ressaltou também o trabalho da Copacon (Cooperativa de Comercialização Agroindustrial Conquista) no assentamento, que compra dos produtores do Eli Vive e repassa a cerca de 110 escolas de Londrina, Cambé e Ibiporã. “Com a cooperativa, as famílias têm para quem vender a produção.”
O índio guarani Payakan Gadje vive no território do Apucaraninha e viaja pelo Brasil e para o exterior para divulgar a cultura indígena, promover um intercâmbio cultural e promover ações de combate às drogas. Cantor e compositor do grupo Raiz e Cultura Indígena em Defesa da Fauna e da Flora, Gadje é líder de 35 aldeias do Paraná, oito aldeias do Norte Pioneiro e 305 etnias no País. “Um evento como esse que está acontecendo aqui na UEL é uma janela para o nosso futuro, nosso reconhecimento. Tem muita gente que acha que não existe mais índio no Paraná, só no Amazonas, que nós ainda andamos pelados. Mas nós acompanhamos a evolução e somos preparados para a nossa luta por nossos direitos. Hoje, nos sentimos humilhados porque somos donos de toda essa terra, mas vivemos como mendigos”, declarou Gadje. “Fazemos um grande esforço para manter viva a nossa cultura, nossa linguagem, nossos costumes porque a tendência é acabar.”