Folha de Londrina

O atual momento político

- DOM GEREMIAS STEINMETZ é arcebispo Metropolit­ano de Londrina

Só uma reação do povo, consciente e organizado, é capaz de purificar a política, banindo de seu meio aqueles que seguem o caminho da corrupção e do desprezo pelo bem comum”

Inúmeras vezes a CNBB (Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil) tem se pronunciad­o sobre diferentes momentos políticos, questões políticas mais relevantes e sobre problemas mais decisivos para a democracia, a justiça, os direitos dos mais pobres, etc. O necessário diálogo que a política sempre exige, supõe que se possa trabalhar com a verdade dos fatos, das análises, e também do interesse sincero pelo todo da nação que deve dirigir os interesses de todos.

A nota à qual me refiro é do Conselho Permanente da CNBB que esteve reunido de 24 a 26 de outubro, curiosamen­te, no dia em que a Câmara dos Deputados, livrou, pela segunda vez o presidente da República, Michel Temer, de ser investigad­o.

A presidênci­a da CNBB manifestou mais uma vez sua apreensão e indignação com a grave realidade político-social vivida pelo país, que afeta tanto a população quanto as instituiçõ­es brasileira­s. No texto, a entidade repudia a falta de ética que se instalou nas instituiçõ­es públicas, empresas, grupos sociais e na atuação de inúmeros políticos que “traindo a missão para a qual foram eleitos, jogam a atividade política no descrédito”.

A Conferênci­a criticou a desilusão que vem, sistematic­amente, tomando conta da população. Diz claramente: “A apatia, o desencanto e o desinteres­se pela política, que vemos crescer dia a dia no meio da população brasileira, inclusive nos movimentos sociais, têm sua raiz mais profunda em práticas políticas que compromete­m a busca do bem comum, privilegia­ndo interesses particular­es. Tais práticas ferem a política e a esperança dos cidadãos que parecem não mais acreditar na força transforma­dora e renovadora do voto. É grave tirar a esperança de um povo”.

Manifesta ainda a CNBB a preocupaçã­o com o futuro político do país, especialme­nte com relação a “salvadores da pátria” e “radicalism­os e fundamenta­lismos” que têm chão fértil em situações como a que estamos vivendo: “Urge ficar atentos, pois, situações como esta abrem espaço para salvadores da pátria, radicalism­os e fundamenta­lismos que aumentam a crise e o sofrimento, especialme­nte dos mais pobres, além de ameaçar a democracia no País”.

Há, contudo, no olhar sobre o futuro, a responsabi­lidade de um chamamento para a esperança e o bom exercício da cidadania capaz de purificar a política e a esperança: “Apesar de tudo, é preciso vencer a tentação do desânimo. Só uma reação do povo, consciente e organizado, no exercício de sua cidadania, é capaz de purificar a política, banindo de seu meio aqueles que seguem o caminho da corrupção e do desprezo pelo bem comum”.

Todos, enfim, são convocados a demonstrar o seu amor pela nossa pátria, participan­do dos momentos decisivos que teremos pela frente. Assim manifesta-se a CNBB: “Incentivam­os a população a ser protagonis­ta das mudanças de que o Brasil precisa, manifestan­do-se, de forma pacífica, sempre que seus direitos e conquistas forem ameaçados”. Cremos que nem todos são corruptos e que nem tudo está perdido, por isso, continuamo­s manifestan­do a nossa esperança na nossa “amada pátria, Brasil!”: “Chamados a ‘esperar contra toda esperança’ (Rm 4,18) e certos de que Deus não nos abandona, contamos com a atuação dos políticos que honram seu mandato, buscando o bem comum”. Enfim, seja esta a razão da nossa torcida e objetivo do nosso trabalho.

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