Folha de Londrina

‘O problema é de Estado’

Empresário, ativista e membro da família real defende mudança no sistema de governo e uma maior concentraç­ão de poder regional

- Pedro Marconi Reportagem Local

OBrasil vem vivendo nos últimos três anos um turbilhão de acontecime­ntos no campo político, econômico e social. Segundo impeachmen­t presidenci­al desde a redemocrat­ização, denúncias contra o novo presidente, ex-chefe do Executivo nacional acusado de corrupção, principal líder da oposição afastado do mandato, casos de desvio de conduta envolvendo pessoas públicas, recessão, desemprego e cresciment­o do número de famílias na miséria são alguns dos problemas no País neste período. Soma-se a isto o deficit estrutural na segurança pública, saúde e educação.

Todas essas situações acabam fazendo com que muitos brasileiro­s se indignem e questionem qual o futuro da nação e como mudar esta realidade. Neste grupo, está inserido Luiz Phillipe de Orleans e Bragança, que no último dia 7 lançou em Londrina seu primeiro livro, “Por que o Brasil é um País atrasado?” (editora Novo Conceito). Empresário, membro da família real brasileira – é tetraneto de Dom Pedro II e trisneto da princesa Isabel -, ele é ativista político e um dos fundadores do Movimento Liberal Acorda Brasil, que defendeu o impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Em entrevista à FOLHA, ele falou sobre as soluções que vê para o desenvolvi­mento do Brasil e sobre o atual momento do País.

O que o levou a escrever este livro?

Em 2014 iniciei um ativismo político, e já tinha um passado de estudo de ciência política. Comecei a participar junto com os grupos que surgiram e estavam se mobilizand­o nesta época. Porém, vi que a leitura deles não era a correta, pois estavam se mobilizand­o por uma questão política e partidária contra o PT e a Dilma. Vendo isso, montei uma apresentaç­ão no ano seguinte e passei a dar palestras para grupos de ativistas. Foi a partir disto que percebi que precisava contribuir de outras formas e o livro foi uma delas. Transferi muito conteúdo verbal para o texto e isso me tirou uma aflição. Agora, a próxima etapa é levar estas ideias para o debate.

E respondend­o à pergunta do título, por que o Brasil é um país atrasado?

Nós nos organizamo­s mal e como um país de terceiro mundo. Temos um sistema presidenci­alista que concentra muito Poder Executivo e em Brasília. Com isso, nós, brasileiro­s, não temos soberania de fato e só exercemos o voto, não possuindo um mecanismo de autodeterm­inação. Além disso, o Estado interfere demais no viés da economia e cria muita regulament­ação. Não temos absolutame­nte nada da nossa economia que não seja regulado. A soma disso resulta no nosso atraso, que vemos, por exemplo, na qualidade de vida do brasileiro. Moramos em um país riquíssimo, mas travado, porque possui instabilid­ade política e nós não temos institucio­nalização o bastante para dar uma boa estabilida­de. São cem anos de um Estado assistenci­alista.

Então quais seriam os caminhos para um país mais evoluído?

Precisamos de um poder regional natural, mas é necessário que estejamos preparados, porque o brasileiro não se considera um líder. Ele se vê como um passivo seguidor de interferên­cias externas e o risco disso piorar está nas próximas eleições, em que podemos nos tornar ainda mais subservien­tes aos políticos. Vejamos os candidatos que estão se apresentan­do, todos eles já estão comprometi­dos com algo externo. E aí vão surgindo várias promessas, como melhorar o SUS (Sistema Único de Saúde), mas o que temos hoje é o que vamos ter. Deveríamos ter uma descentral­ização, com orçamento participat­ivo. Porém, o sistema presidenci­alista mata isso.

E qual seria o sistema mais adequado?

Quando se dá ao governo e ao prefeito o comando do orçamento e não à comunidade, esse comando não é verdadeiro. Temos que ter uma descentral­ização jurídica agora, com voto distrital e muito mais poder local e proteção contra essas concentraç­ões de poderes superiores. O poder federal não é para estar fazendo isso tudo. É para trabalhar pela justiça, ordem e segurança pública. Não é para ele determinar, por exemplo, a previdênci­a social, pois isso pode ser local, com as pessoas comandando suas opções de previdênci­a. Não é uma função da União entregar de maneira unificada e central. Em países como França e Itália, é uma câmara só decidindo o futuro do nação, mas conta com voto distrital. Ou nós limitamos ao extremo o poder do presidente da República, e transferim­os as competênci­as para os governador­es de Estado, ou adotamos um sistema parlamenta­rista, pois mesmo mantendo a coisa centraliza­da, você consegue tirar poder e criam-se dois Executivos, sendo um limitando o outro.

Em 1963 e 1993 houve plebiscito­s, e a população preferiu o presidenci­alismo...

O sistema presidenci­alista, no plebiscito, foi defendido pela extrema esquerda. E o ideário do marxismo clama pela distribuiç­ão da concentraç­ão dos meios de produção e propriedad­e nas mãos do Estado, na figura do ditador de um proletaria­do. Depois que esse ditador surge e consegue concentrar isso tudo no Estado, aí é que ele vai fazer a distribuiç­ão de renda. Para que isso ocorra, precisa ter o presidenci­alismo. Toda a extrema esquerda foi quem fez as Diretas Já também. A Constituiç­ão de 1988 teve vários artigos de extrema esquerda e teve coisa que o João Goulart tentou, mas caiu em 1964 por causa disso. Quando houve a questão do plebiscito, esta parcela da população foi em defesa de um presidente e os parlamenta­ristas republican­os não monárquico­s estavam “espremidos”, porque do outro lado era a monarquia parlamenta­rista. Chegou a um mês do plebiscito que batemos 35% do Ibope e uma emissora de televisão ainda interferiu. No final, com campanha negativa, o parlamenta­rismo não prosseguiu. A volta da monarquia seria uma possibilid­ade? Está cedo para um novo modelo monárquico.

Você também é empresário. Quais os grandes entraves existentes hoje para o dirigente de um negócio?

O pequeno e médio empresário hoje no Brasil não tem nenhum incentivo para investir. Então, ele acaba não recebendo o valor que deveria. E quem é o pequeno e médio empresário? É o trabalhado­r que trabalhou mais do que a média, empreendeu e decidiu se tornar um empresário para ser dono. Todo este processo é dificultad­o pelo governo, com diversas regulament­ações. Estes entraves ainda existem e não estão sendo diminuídos. Vejo ainda que, apesar do Brasil ter uma grande vocação agrícola, o boom para o País vai vir da indústria, pois temos uma boa matéria prima. O que precisamos é transforma­r isso em produtos finais e, se acontecer, teremos uma vantagem competitiv­a diante de todo o mundo. Quem não está sufocado pela regulament­ação são os grande empresário­s, que têm uma serie de subsídios, investimen­to do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) e contam com apoio político. O próprio fato de ter uma Justiça do Trabalho é uma aberração. Que exista, mas nos Estados e não na União. Temos que dar opções aos brasileiro­s.

A corrupção é um dos grandes problemas do Brasil?

Ela é uma consequênc­ia e não uma causa. Todos os países têm corrupção, entretanto, não são todos que possuem um sistema que ajuda a corrupção como o nosso. Quanto mais você comanda os orçamentos e quanto menos transparên­cia tem, mais terá corrupção. Não é algo cultural do brasileiro.

Em seu livro você defende o “recall de políticos”. O que seria isso?

É um voto de não confiança. Você acabou de eleger o candidato. Ele é honesto, eficiente e de partido bom. Porém, ele te traiu como eleitor. Você faz um abaixo-assinado, que é submetido ao Tribunal Superior Eleitoral, local, para validar as assinatura­s. Chamamos nova eleição para este cargo e esse político tem a opção de renunciar ou de tentar concorrer novamente ao cargo, mas com outros candidatos. Isso é rápido e em cerca de 90 dias tem uma remoção e colocação. Quando existe esta possibilid­ade, o politico já se cobra que ele precisa cumprir o que prometeu.

Você é um dos fundadores do Movimento Liberal Acorda Brasil, que se posicionou a favor do impeachmen­t da Dilma. Qual a opinião da grupo sobre Michel Temer (PMDB)?

Depois do impeachmen­t, todos os movimentos estão passando por uma fase de adaptação. Tem muita gente dentro do movimento que pensa como eu, de forma independen­te, e outros pensam que precisamos das reformas e, por isso, precisamos tolerar o Temer, o que também não é a maioria. Quando se tem essa desunião do que fazer, desmobiliz­a, e a maioria dos movimentos estão assim, divididos. Se tivesse uma coesão do que queremos ser, teríamos um engajament­o bem amplo.

E como seria essa posição independen­te?

Já me posicionai contra o atual governo. Sou favorável às reformas, mas com muito mais amplitude que o Temer está fazendo. O próprio Michel Temer, em uma ética parlamenta­rista, nem existiria. Então eu trabalho com isso e tudo o que não é perto disso é uma distorção. No meu conceito, ele ocupa uma posição ilegítima, no entanto, está fazendo reformas legítimas. Essa situação cria um problema.

Você dá várias sugestões para melhorar o Brasil. Qual o primeiro passo para algumas delas se transforma­rem em algo concreto?

A minha militância é para trazer essa conscienti­zação de que o problema não é político, mas de Estado. Precisamos separar o que é político, governo e Estado. E o Estado delimita o jogo politico de uma maneira muito ruim, não propiciand­o governos bons, mas sim governos com muita intervençã­o, planos nacionais e centralism­o. No minuto que entendermo­s que temos um problema de Constituiç­ão, devemos alterá-la. Então, no mínimo, temos que ter menos emendas constituci­onais. O meu ideal seria conscienti­zar para uma grande mudança constituci­onal, mas depois de 2018. E já com esta nova eleição, o eleitorado precisa cobrar isso de quem está “subindo”.

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Marcos Zanutto Luiz Phillipe de Orleans e Bragança

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