Alunos limparam preconceitos até nos banheiros
Professora da rede estadual de ensino há mais de 25 anos, Valdirene Aparecida da Silva participou da formação em 2013 mas, anteriormente, já havia participado do curso Resenhas. “Depois de minha participação nesses cursos, minha prática ficou muito mais reflexiva. Já conhecia e aplicava (como imaginava ser) a sequência didática como metodologia nas aulas de Língua Portuguesa. No entanto, depois de começar a participar da Olimpíada da Língua Portuguesa e de aplicar em sala de aula as oficinas com os gêneros textuais, fui me aprimorando e adaptando os conhecimentos adquiridos às minhas turmas e a minha realidade local”, relembra.
Ela conta que atua na Escola Estadual Valdir Umberto de Azevedo (Caic), de Cambé, desde 2001. A escola completará 25 anos em 2018 e está localizada em um bairro com alto índice de criminalidade, além de “carência financeira e afetiva”. “Mesmo assim, a escola sempre se preocupou em trabalhar a autoestima dos alunos por meio de um projeto intitulado “Respeito é bom e todo mundo gosta, inclusive eu”, combatendo todo e qualquer tipo de preconceito. Contudo, nos três últimos anos, o projeto não foi aplicado com a frequência de antes, por isso percebemos aumento de problemas de relacionamento e, consequentemente, prática de bullying”.
Diante disso, a professora pensou em trabalhar o tema bullying, preconceito e vandalismo a partir de poemas, com o intuito de sensibilizar os alunos dos sextos anos, envolvê-los no trabalho e motivá-los a serem autores de sua realidade. “Iniciei explicando que durante o mês trabalharíamos o poema e a poesia. Perguntei a eles que tema acreditavam ser necessário abordarmos e, por incrível que pareça, eles falaram sobre a discriminação e o bullying pela aparência. Dialogando, descobri que se sentiam incomodados com os xingamentos e outras formas de violência contra alunos”, detalha a professora.
O incômodo, conforme relatos dos alunos, acontecia até mesmo com o que encontravam escrito nas portas dos banheiros, nas paredes e carteiras. “Propus, então, que trabalhássemos o tema e o gênero poema/poesia com o objetivo de elaborar e espalhar pela escola, tentando sensibilizar e promover reflexão.” Mas a ideia foi muito mais além e os alunos propuseram fazer uma pesquisa na escola sobre o tema, apagar os xingamentos de portas de banheiro, paredes e carteiras, montar um painel no qual pudessem expor textos, desenhos, frases, notícias. “Denominaram o painel “Preconceitofobia” para colarem mensagens, reportagens, cartazes. Iniciamos, assim, nosso caminho para a escrita de poemas, visando motivar a escrita e a autoria do aluno”.
Ao mesmo tempo em que os alunos recuperavam as carteiras, portas e paredes, lixando, pintando e colando papeis próprios, em sala de aula, analisaram poemas, estudaram os recursos poéticos, assistiram a vídeos sobre o tema, entrevistaram pessoas e iniciaram as produções de poemas e frases positivas. “Fizeram reescritas, reformulações, adaptações e elaboraram paródias e teatros para falar sobre o bullying nas salas dos alunos menores. Montaram também um sarau para apresentarem os poemas, outros textos, teatros e danças sobre o tema. Envolveram toda a escola nessa parte. Já os poemas estão sendo colados por toda a escola. Isso, por sua vez, é um desafio, pois muito são riscados ou rasgados. Eles têm demonstrado muito empenho e não desanimam”, pontua Valdirene, destacando outros projetos realizados com outros temas durante o ano, como o “trabalho com as tiras cômicas e as fábulas enlatadas”, todas visando motivar a escrita e a autoria do aluno.
(M.T.)