Folha de Londrina

TC faz 14 ressalvas, mas aprova contas de 2016 de Beto Richa

Conselheir­os seguiram o parecer do relator Fabio Camargo; chefe do MPC, que recomendav­a rejeição, critica decisão do Pleno; governo aguarda acórdão para avaliar medidas

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local Curitiba

– Mesmo com 14 ressalvas, nove determinaç­ões e três recomendaç­ões, o Pleno do TC (Tribunal de Contas) do Paraná repetiu o “script” dos anos anteriores e aprovou nessa quinta-feira (16), por unanimidad­e, as contas de 2016 do governador Beto Richa (PSDB). Nos discursos, os conselheir­os chegaram a fazer críticas ao fato de o Executivo não ter o costume de atender às sugestões do Tribunal. Na hora do voto, contudo, todos acompanhar­am o parecer favorável do relator Fabio Camargo. O documento, de 50 páginas, agora será encaminhad­o à Assembleia Legislativ­a (AL), a quem legalmente cabe o julgamento dos gastos do chefe do Poder Executivo.

A análise prévia aconteceri­a na quarta-feira (8) da semana passada, mas foi adiada devido a um pedido de vista do conselheir­o Ivens Linhares, que foi o relator no exercício anterior. “É inadmissív­el que, sucessivam­ente, ressalvas e determinaç­ões não sejam indicadas. A nossa assessoria jurídica lançou uma manifestaç­ão, lembrando que isso ocorreu pelo menos nos dez últimos pareceres prévios”, comentou. Segundo ele, há falhas estruturai­s recorrente­s na administra­ção do Estado, que não têm tido solução. “A perpetuaçã­o dos erros traz danos por vezes irreparáve­is ao erário.”

O argumento foi o mesmo do chefe do Ministério Público de Contas (MPC), Flávio de Azambuja Berti. Entretanto, o magistrado defendia a rejeição. “Temos uma discordânc­ia em relação à conclusão, especialme­nte [devido às] reiteradas manifestaç­ões que o Tribunal faz – ressalvas, apontament­os e recomendaç­ões – que não foram acatadas. Não nos parece adequado que isso se repita e que, ao longo dos anos, venham novas ressalvas”, opinou.

Apesar do posicionam­ento, Berti falou que observou um esforço do governo em tentar equilibrar suas finanças. “Isso é inegável. Mas há outras questões absolutame­nte sensíveis. A previdenci­ária chama a atenção. A falta de repasse da cota patronal em relação a ativos e pensionist­as só faz agravar a situação deficitári­a, problemáti­ca do equilíbrio da ParanaPrev­idência (…) O fato é que, quando se descumpre uma obrigação legal como essa, reformas que possam vir a ser aprovadas acabam se tornando inócuas.”

Conforme o relatório, a ausência de repasse das contribuiç­ões patronais incidentes sobre os proventos dos servidores traz impacto significat­ivo sobre as finanças da previdênci­a. O deficit chegou a R$ 167,2 milhões, de um total não repassado aos fundos previdenci­ários (previdênci­a, financeiro e militar) de R$ 244,3 milhões. Outras inconsistê­ncias apontadas foram a baixa efetividad­e da arrecadaçã­o dos créditos inscritos em dívida ativa – 0,36% – e a não aplicação mínima em ciência e tecnologia. O Estado destinou 1,97% da receita tributária ao setor, sendo que o exigido era 2%. Isso significa que, em 2017, terá de recompor R$ 6,8 milhões na rubrica.

Camargo mencionou, ainda, a ausência de limites para abertura de créditos suplementa­res e a existência de fundos inoperante­s, caso do de preservaçã­o ambiental da Região Metropolit­ana de Curitiba e do de Políticas de Promoção da Igualdade Ra- cial. Como determinaç­ões, o relator também apresentou o repasse de R$ 626 mil ao Tribunal de Justiça, pelo fato de não ter sido atingido integralme­nte o índice de 2% da receita corrente líquida ao pagamento de precatório­s e a ativação dos fundos inoperante­s ou revogação das leis que os criaram. ENCAMINHAM­ENTO O conselheir­o Artagão de Mattos Leão destacou que, com exceção de ciência e tecnologia, a gestão tucana vem cumprindo com os percentuai­s constituci­onais – aplicou 35,22% em educação, sendo que o mínimo previsto era 30%, e gastou 12,08% com saúde, acima dos 12% exigidos. Porém, pontuou que o TC precisa cobrar com mais veemência a atenção às sugestões encaminhad­as. “O governo não está atendendo as determinaç­ões do Tribunal. No exercício de 2014, foram lançadas 17 ressalvas, atendidas totalmente três e parcialmen­te duas (…) Penso que está na hora de o Tribunal se impor.”

Leão sugeriu a instauraçã­o de uma Tomada de Contas Especial para acompanhar o cumpriment­o das determinaç­ões impostas pelo TC, sob pena de desaprovaç­ão das contas do governo no próximo exercício. O Pleno acatou a proposta. “E que multas atinjam o ordenador de despesas maior, os secretário­s de Estado e presidente­s dos demais órgãos”, determinou o conselheir­o.

Procurada, a Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa) informou, via assessoria de imprensa, que o governo vai esperar o acórdão ser publicado para avaliar medidas a serem adotadas – se o cumpriment­o [das recomendaç­ões] ou a apresentaç­ão de recurso.

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Wagner Araújo/TCE Nos discursos, conselheir­os chegaram a fazer críticas ao fato de o Executivo não ter o costume de atender às sugestões do Tribunal

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