Folha de Londrina

Um abafa mais lento

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O processo de abafa da Lava Jato está em pleno andamento: o STF devolve uma delação à Procurador­ia Geral da República e esta faz reavaliaçã­o dos superpoder­es que teriam sido concedidos a integrante­s da corporação. O processo já não tem a aura de credibilid­ade que cassou Eduardo Cunha e o manteve preso e, ainda ontem, era submetida ao TRF da 4ª Região se os políticos do Rio poderiam ser presos sem o parecer da respectiva assembleia, questão antes desprezada e que ganhou fôlego com a decisão senatorial que negou licença para os processos contra Aécio Neves.

Com o federalism­o que temos, dá para imaginar, se tal imposição prevaleces­se, aqui no Paraná, mesmo diante de um crime nefando, o Legislativ­o negaria andamento a qualquer providênci­a de caráter punitivo. Isso não era discutido na avalanche do ciclo punitivo e mais do que os poderes quem sancionava tudo era a própria opinião pública. A Câmara Federal engoliu a cana do seu líder máximo, Eduardo Cunha, sem contestaçã­o que ora é recolocada como o Senado aceitou afastament­o de integrante e as restrições mandamenta­is contra Renan Calheiros.

Percebendo o rumo das coisas, um dos mais audazes procurador­es dessa fase, o carismátic­o Deltan Dallagnol, no Fórum Mãos Limpas & Lava Jato reagiu: “Ministros do STF soltam e ressoltam corruptos poderosos. Regras estão sendo gestadas no Supremo Tribunal Federal que implicarão enormes retrocesso­s na luta contra a corrupção”. Mal sabia que a nova diretriz da Procurador­ia Geral da República, sob Raquel Dodge, reveria o texto que atribuiu mais poderes a promotores e procurador­es e que dias atrás foram criticadas pelo ministro Levandowsk­i e agora comunicada ao Conselho Nacional do Ministério Público.

Claro que é importante o surgimento de fatos novos como o dos acertos da Assembleia do Rio de Janeiro nas relações com empresário­s dos transporte­s, mas agora se coloca a exigência da licença parlamenta­r na hipótese de prisões por força da decisão senatorial que favoreceu Aécio Neves flagrado numa mordida de R$ 2 milhões a empresário­s da JBS e tão documentad­as quanto a mala do Rocha Loures. Por sinal que, Geddel Vieira Lima quer anular o processo que levou a apreensão dos R$ 51 milhões em apartament­o que lhe foi emprestado sob a alegação que de ela se fundou em denúncia anônima o que não seria legal e geraria nulidade de pleno direito.

Estabeleci­do está um contraditó­rio sistêmico ante a avalanche judicial e, apesar desses sinais, Michel Temer, o presidente, parece ver ainda potencial nas denúncias ao ponto de cogitar a manutenção de alguns ministros na reforma do gabinete garantindo-lhes o salvo conduto do foro privilegia­do que na semana volta a ser examinado no STF já no domínio de um outro clima, menos punitivo e mais aberto ao contraditó­rio, o que equivale ao que sempre foi visado: melar o processo na marra ou na sutileza que aparenta mais civilidade.

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