Folha de Londrina

Família de paranaense morta em Lisboa aguarda liberação do corpo

Natural de Amaporã, Ivanice Carvalho da Costa, 36, foi baleada por engano pela polícia portuguesa; carro foi confundido com veículo usado em assalto

- Celso Felizardo Reportagem Local

Afamília da paranaense Ivanice Carvalho da Costa, 36, morta a tiros pela polícia portuguesa na madrugada de quartafeir­a (15), em Lisboa, aguarda a liberação das autoridade­s para fazer o sepultamen­to do corpo em Amaporã, no Noroeste do Estado. A mãe de Ivanice, a aposentada Maria Luiza Silva Carvalho da Costa, 59, contou que só recebeu a notícia quando se preparava para ir dormir, na noite de quarta-feira, quando recebeu telefonema de parentes dizendo que a filha havia sido baleada no pescoço. “Demorei para saber porque não tinham coragem de me contar”, explicou a aposentada.

Ivanice morreu por volta das 3h30 de quarta (15), em um bairro próximo ao aeroporto de Lisboa. Seu carro foi atingido por mais de 20 disparos. A polícia confundiu o veículo em que ela e o companheir­o estavam, um Renault Megane preto, com um outro veículo que havia acabado de participar de um assalto a um caixa eletrônico, em uma cidade da região metropolit­ana de Lisboa. Em razão do crime, havia um grande efetivo policial destacado para tentar enfrentar os bandidos.

O veículo em que os assaltante­s estavam, um Seat Leon preto, havia escapado de uma perseguiçã­o policial minutos antes, em uma região próxima ao local onde a brasileira foi atingida. Segundo a PSP (Polícia de Segurança Pública), o motorista não obedeceu às ordens de parar o carro e, durante a fuga, tentou ainda atropelar os policiais, “que tiveram de afastar-se rapidament­e para não serem atingidos” e “foram obrigados a recorrer a armas de fogo”.

Fontes ouvidas pela reportagem dizem que o companheir­o da vítima estava dirigindo o veículo sem carteira de habilitaçã­o e sem seguro do carro (que é obrigatóri­o em Portugal). Por isso, acabou se assustando ao se deparar com vários carros da polícia na estrada. Após dar marcha a ré e bater em uma parede, o homem acabou avançando em direção aos policiais, que abriram fogo.

Ivanice era a mais velha de quatro filhos. Segundo Maria Luiza, ela ajudou a criar as irmãs mais novas. “Ela foi uma mãe para as minhas meninas mais novas. Ela tinha um carinho que era bonito de ver”, lembrou Maria Luiza. Ivanice estava em Portugal há 17 anos e, segundo a mãe, trabalhava em um café no aeroporto desde que chegou ao país. A última vez que elas se encontrara­m foi em 2008. “Foi a última vez que ela veio nos visitar. Eu e meu marido estávamos nos programand­o para ir para Portugal. Ela insistia que a gente fosse lá conhecer”, contou. “Fora isso, só conversáva­mos por mensagens e pela câmera do computador”, disse.

Maria Luiza informou que os trâmites do traslado estão sob responsabi­lidade de uma irmã dela, tia de Ivanice, que também mora em Portugal. A previsão é que o corpo seja liberado nesta sexta-feira (17). Ela considera os policiais culpados pela morte da filha e informou que aguarda informaçõe­s da irmã, que discute com um advogado a possibilid­ade de processar o governo português. Ivanice foi a primeira vítima fatal da polícia portuguesa em 2017. Em julho de 2005, o mineiro Jean Charles de Menezes, 27, morreu após ser atingido pela unidade armada da Scotland Yard no metrô de Londres. Ele fora confundido com um terrorista pela polícia inglesa.

(Com Folhapress)

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