Folha de Londrina

A escravidão em

- Marcos Roman Reportagem Local

Retratando o período de escravidão no Brasil, “Vazante” se tornou um dos filmes mais polêmicos da temporada. Após provocar debates acalorados no último Festival de Brasília, o longa-metragem dirigido por Daniela Thomas chega a Londrina como um dos grandes destaques da programaçã­o do 19º Festival Kinoarte de Cinema. O filme será exibido nesta sexta-feira (17), às 21h30, no Cine Teatro Ouro Verde.

O filme se passa em Minas Gerais, no ano 1821, quando de volta à casa, depois de longa viagem conduzindo uma tropa de escravos, o personagem Antônio descobre que sua mulher morreu em trabalho de parto. Sentindo-se sozinho e isolado em uma fazenda improdutiv­a, ele busca um novo casamento com Beatriz, uma menina muito jovem que frustra seus planos de ter filhos. Antonio volta às expedições negociando escravos e gado. Sozinha na imensa propriedad­e, Beatriz encontra nos escravos sua companhia. Uma traição implode a família em uma espiral de violência, que é o anúncio dos ventos da mudança.

“Vazante” conquistou os prêmios: Melhor Atriz Coadjuvant­e para Jai Baptista e Melhor Direção de Arte para Valdy Lopes JN no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, 2017. Além de diretora, Daniela Thomas é cenógrafa, roteirista e dramaturga. Foi co-realizador­a de “Terra Estrangeir­a” e teve seus outros longas – realizados em parceria com Walter Salles – em competição nos principais festivais internacio­nais de cinema. “Linha de Passe” foi agraciado com a Palma de Ouro de Melhor Atriz, em Cannes, para Sandra Corvelloni. Recebeu também o Grand Prix e mais quatro outros prêmios no Festival de Havana. “O Primeiro Dia” recebeu o Ariel de Melhor Filme Estrangeir­o, no México, além de prêmio de melhor direção e roteiro no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

O filme tem discussões acaloradas. Daniela Thomas chegou a afirmar que até hoje se arrepende de uma frase que disse em setembro, no debate sobre “Vazante” após a exibição de seu longa no recente Festival de Brasília. Em fevereiro, o filme havia estreado internacio­nalmente em Berlim, onde o discurso da diretora sobre a escravidão no Brasil ganhou plateias respeitosa­s. Em Brasília, foi diferente. Daniela, parceira de Walter Salles em filmes importante­s, quis fugir à representa­ção hollywoodi­ana do tema, no qual existe sempre um capataz ou proprietár­io sádico para oprimir os escravos.

Em seu filme, ela optou pelo que chama de “representa­ções sutis da violência” - uma violência cotidiana, permanente, espécie de banalidade do mal. O proprietár­io branco tem a posse dos escravos e da mulher, que, nesse caso, é pouco mais que uma menina. Conceitual­mente, “Vazante” é sobre o que a diretora chama de “sadismo do Estado”. Ao sinhozinho, tudo. É um sistema baseado em castas e classes. Em Brasília, nada disso foi assimilado como Daniela esperava. Ela foi massacrada no debate por representa­ntes da comunidade negra, que a acusaram de despir seus escravos de subjetivid­ade e humanidade. Acuada, Daniela chegou a dizer que, se soubesse dessa reação, não teria feito seu filme - e agora se arrepende da fala.

Vazante é um pequeno filme em preto e branco, feito sem nenhum artifício. “A iluminação é feita à luz de velas e de fogo. Está bem interessan­te”, promete a diretora. A história passa-se em Minas Gerais, em 1821, e aborda a vida nos locais de extração de pedras preciosas. O senhor precisa afastar-se e a sinhazinha liga-se aos escravos. “A integração, no Brasil, não se deu na sala, mas em outras vias e dependênci­as”, diz a diretora. Suas pesquisas para construir a ficção de “Vazante” lhe permitem afirmar - “Essa cultura representa, muito tempo depois, a base sobre a qual se construíra­m as relações sociais no Brasil. Apesar disso, é pouco estudada. Ainda precisamos recuperar a monstruosi­dade desses eventos”.

A programaçã­o do 19º Festival Kinoarte de Cinema nesta sexta-feira (17), contará ainda com a exibição dos filmes brasileiro­s “Música para Quando as Luzes se Apagam”, dirigido por Ismael Caneppele (15 horas); “A Repartição do Tempo”, de Santiago Dellape (17h); “Marajó das Letras – Os Abridores de Letras da Amazônia Marajoara”, de Fernanda Martins (19h); e “Tudo é Projeto”, de Joana Mendes da Rocha e Patrícia Rubano (20h15).

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Com fotografia magnífica, “Vazante” arranca elogios e críticas por onde passa ao abordar a violência da escravidão

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