Folha de Londrina

Após 37 anos no poder, Mugabe renuncia ao governo do Zimbábue

Carta de renúncia foi lida nesta terça-feira, depois de o próprio partido do ditador ter solicitado sua destituiçã­o; ex-vice-presidente pode assumir transição

- Mundo@folhadelon­drina.com.br Susan Njanji France Presse

Harare –

Após 37 anos no poder, o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, de 93 anos, apresentou nesta terçafeira (21) a sua renúncia, conforme anunciou o presidente do Parlamento Nacional durante sessão extraordin­ária. A carta de renúncia foi lida, sob aplausos, pelo presidente da Assembleia Nacional, Jacob Mudenda. O anúncio foi comemorado nas ruas da capital, Harare, com buzinaços e gritos de alegria.

O Parlamento havia sido convocado para debater a moção de destituiçã­o de Mugabe, feita pelo seu próprio partido, o Zanu-PF (Frente Patriótica). Antes que o debate começasse, a carta foi lida e encerrou uma semana de incertezas, que começou quando os militares prenderam Mugabe em sua residência e assumiram o controle do país, ação que se deu em decorrênci­a da destituiçã­o do vice-presidente Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, tido como homem leal ao regime e herói da luta pela “libertação” do Zimbábue.

Mugabe o destituíra para supostamen­te dar lugar a sua esposa, Grace, e posteriorm­ente colocá-la no comando do país. Seu partido o acusou de “ter autorizado sua esposa usurpar seus poderes” e “não ser mais capaz fisicament­e de assegurar seu papel”.

Após o golpe militar, no dia 15 de novembro, Mnangagwa, lideranças do ZanuPF e do Exércitos, além de zimbabuano­s, nas ruas, começaram a pedir renúncia de Mugabe. Na carta de renúncia, lida no Parlamento, o ditador escreveu: “Minha decisão de me demitir é voluntária. Está motivada pela minha preocupaçã­o com o bem-estar do povo zimbabuano e meu desenho de permitir uma transição, pacífica e não violenta, que garanta a segurança nacional, a paz e a estabilida­de.”

A renúncia põe fim em quase quatro décadas de um governo caracteriz­ado pelos “punhos de ferro” do herói da guerra da independên­cia, que, em 1980, assumiu o comando do país, recém-surgido da antiga Rodésia, colônia britânica onde governava uma minoria branca. Seu discurso sobre reconcilia­ção e união lhe valeu elogios em nível internacio­nal, porém, nos longos anos de governo, amordaçou a oposição e arruinou a economia do país.

Analistas acreditam que Mugabe será substituíd­o pelo ex-vice-presidente Mnangagwa, mesmo que constituci­onalmente a vaga fosse do vice-presidente Phelekezel­a Mphoko, que é próximo da primeira-dama, mas foi expulso do Zanu-PF. “Penso que Emmerson Mnangagwa será rapidament­e empossado”, antecipou o analista Derek Matyszak, do instituto de estudos em segurança ISS, de Pretória. “Pelo que sei, Mphoko não está no país”, acrescento­u.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, reagiu ao anúncio da renúncia, afirmando que a saída de Mugabe “oferece ao Zimbábue a oportunida­de de forjar um novo caminho livre da opressão”. “Como o amigo mais antigo do Zimbábue, faremos o possível para apoiar” a transição política no país, acrescento­u a chefe de Estado da Grã-Bretanha, ex-potência colonial do país africano.

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Jekessai Njkizan/AFP Populares que acompanhav­am a sessão do Parlamento retiram o retrato do ex-presidente Robert Mugabe
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