Folha de Londrina

Brasil gasta mais com funcionali­smo que Estados Unidos e França

Relatório do Banco Mundial mostra que salários pagos pelo Poder Público são 67% maiores que os da iniciativa privada

- Magaléa Mazziotti Reportagem Local

Brasília

- O Brasil gasta mais com funcionali­smo que EUA, Portugal e França. No relatório “Um ajuste justo - propostas para aumentar eficiência e equidade do gasto público no Brasil”, divulgado nesta terça-feira, 21, o Banco Mundial mostra que os gastos do País com servidores (de todas as esferas de governo) alcançaram 13,1% do PIB em 2015 (último dado disponível). Há dez anos, o número era de 11,6%, o que colocava o Brasil atrás dos europeus.

O relatório também aponta que o setor público paga em média salários 67% mais elevados do que os pagos pela iniciativa privada formal - R$ 44.000 contra R$ 26.000 por ano- e quase três vezes mais do que recebem os trabalhado­res informais (R$ 16.000 anuais). O estudo foi encomendad­o pelo governo federal e o banco fez uma série de sugestões para adequar os gastos públicos (ver quadro).

Segundo a instituiçã­o, fora da Europa, países ricos como Austrália e EUA gastam considerav­elmente menos com os servidores, cerca de 9% do PIB.

Mas o gasto superior do Brasil não se deve a um inchaço ou excedente de funcionári­os a serviço da população, segundo o Banco Mundial. Mas sim à remuneraçã­o acima da média dos servidores, principalm­ente os funcionári­os do serviço público federal. Segundo dados da OIT (Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho), reunidos pelo banco, no Brasil 5,6% da população empregada está no setor público. Nos países da OCDE, entre os quais os mais ricos do mundo, este percentual é de quase 10%.

A remuneraçã­o média por funcionári­o é excepciona­lmente alta no Ministério Público Federal (R$ 205.000 por ano), no Poder Legislativ­o R$ 216.000 por ano) e no Poder Judiciário (R$ 236.000 por ano). Isso coloca os servidores federais no topo da pirâmide de renda do Brasil 93% do funcionali­smo civil do governo federal fazem parte do 40% mais rico da população brasileira.

FORA DO PADRÃO

Segundo o relatório, a diferença de 67% entre os salários do setor público e do setor privado é a maior numa comparação com um grupo de 53 países e superior ao de todas as nações que integram a OCDE, o que coloca o Brasil como um “outlier” nesse quesito [caso fora do padrão, no jargão estatístic­o], segundo o Banco Mundial.

No caso dos servidores estaduais, ainda há um prêmio salarial de 30% sobre os semelhante­s da iniciativa privada. Apenas entre os funcionári­os das prefeitura­s é que o prêmio desaparece. Ou seja, ganha-se mais ou menos a mesma coisa no setor público ou no setor privado.

Se o Brasil passasse a seguir os padrões internacio­nais (16% de diferença salarial), a economia seria de R$ 79 bilhões - 1,3% do PIB, quase a economia prevista na próxima década com a reforma da Previdênci­a (1,8% do PIB).

“Mensurar eficiência é planejar e isso precisa ser assimilado pelo setor públi- co. Há de se tornar mais eficiente para toda a sociedade cada real recolhido na forma de tributos, porque hoje, enquanto cada real investido pelo setor privado se converte em R$ 3 de retorno, no setor público, o retorno fica em 0,7%”, ressalta o economista, colunista da FOLHA, e professor da UTFPR de Londrina (Universida­de Tecnológic­a Federal do Paraná), Marcos Rambalducc­i.

Para estancar a “sangria” do gasto público, Rambalducc­i aponta que, além da Reforma da Previdênci­a, considerad­a fundamenta­l no relatório do Banco Mundial, o estado brasileiro deveria passar a governança das organizaçõ­es públicas para o setor privado. “Deixar o controle das empresas públicas sob a ótica do resultado faria o País arrecadar mais e com ganho de eficiência já que isso eliminaria a influência política do comando”, acredita. “Não temos dinheiro sobrando. Por isso é fundamenta­l gerenciar bem a riqueza que o País tem. Não dá para olhar somente para o próprio umbigo, quando o bolo diminuiu, pois alguém ficará sem qualquer pedaço”, ressalta.

Na mesma direção, o economista e professor de planejamen­to e finanças públicas da UP (Universida­de Positivo), Lucas Dezordi, defende que acatar as sugestões do relatório, principalm­ente no que tange a equidade salarial, reforma da Previdênci­a e o teto do gasto público é habilitar o País a um quadro de atração de investimen­tos. “Pelo menos uma minirrefor­ma da Previdênci­a precisa ser feita, para evitar um ciclo de dominância fiscal no qual o País não consiga mais captar dinheiro”, declara.

Folhapress) (Com

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