Folha de Londrina

Relatório sugere fim do Simples Nacional

- Lu Aiko Otta Adriana Fernandes Agência Estado

Brasília

– Para não entrar novamente na espiral da inflação e do baixo cresciment­o, o Banco Mundial diz que o Brasil precisa reduzir os gastos na proporção de 0,6% do PIB (Produto Interno Bruto) a cada ano, o equivalent­e a R$ 9,834 bilhões, a valores registrado­s no segundo trimestre deste ano pelo IBGE.

O documento sugere um conjunto de medidas que poderiam aliviar a pressão sobre o caixa federal no equivalent­e a 7,07% do PIB até 2026.

Algumas delas, porém, exigem contrariar grupos com forte influência no governo e no Congresso Nacional, como os servidores públicos, que ganham os salários mais altos. “Não queremos ser intrusivos”, disse o economista-chefe do Banco Mundial, Antonio Nucifora. “O papel do relatório é estimular o debate.”

As sugestões envolvem também um enxugament­o de 1,29% do PIB nos gastos de Estados e municípios, elevando o potencial de economia a 8,36% do PIB. O banco é taxativo no seu diagnóstic­o: os programas governamen­tais beneficiam os ricos mais do que os pobres. E apesar do alto volume de gastos públicos, a política fiscal tem tido pouco sucesso na redução da desigualda­de e da pobreza.

A medida com mais impacto é a reforma da Previdênci­a, que poderia levar a uma economia de gastos correspond­ente a 1,8% do PIB. “A Previdênci­a é o motor do desequilíb­rio fiscal”, resumiu o diretor do Banco Mundial para o Brasil, Martin Raiser.

Mantida a situação atual, aponta o estudo, daqui a 13 anos os pagamentos com aposentado­rias e pensões estarão ocupando todo o limite do teto de gastos do governo federal. Não vai sobrar dinheiro para salários, manutenção de escolas e hospitais e muito menos para investimen­tos. Em 2080, o rombo da Previdênci­a correspond­erá a 150% do PIB brasileiro.

Depois da Previdênci­a, a segunda maior economia calculada pelo Banco Mundial viria do ataque ao Simples Nacional, regime tributário diferencia­do e simplifica­do para pequenos e médios negócios. Segundo o relatório, não foram identifica­dos impactos positivos do programa no mercado de trabalho ou no desempenho das empresas. Além disso, o programa inibe o cresciment­o das empresas e ajuda a manter vivos empreendim­entos que não são eficientes. Finalmente, pelo diagnóstic­o traçado pela instituiçã­o, o Simples beneficia pessoas físicas de alta renda que recolhem impostos como se fossem empresas.

Segundo Raiser, o Estado brasileiro é mais ou menos do tamanho de um Estado europeu médio. Mas, no velho continente, os gastos governamen­tais com programas sociais ajudam a reduzir a desigualda­de. Isso não ocorre no Brasil. “A realidade é que os pobres se beneficiam muito menos dos gastos públicos”, disse. Ele acrescenta que, por atender principalm­ente às pessoas de renda média e alta, esses programas são passíveis de ajuste.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil