Folha de Londrina

Paraíso para uns, inferno para outros

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Há uma história sobre um médico que foi a um hospício estudar casos extraordin­ários. Lá, ele encontrou um homem enrolado num cobertor, balançando e murmurando “Lulu, Lulu”. Intrigado e sem conseguir obter mais nenhuma outra palavra do paciente o médico pergunta à equipe o que era Lulu. Lhe é respondido que Lulu era o problema desse homem e era o nome da mulher por quem ele fora perdidamen­te apaixonado e que havia dado um tremendo fora nele. Passando a outro paciente, o médico encontra um homem em estado deprimente também murmurando “Lulu, Lulu” e fica surpreso. Pergunta se a mesma Lulu era o problema desse outro homem e lhe é respondido que sim, que a mesma mulher que enlouquece­u o primeiro paciente terminando com ele enlouquece­u o segundo casando-se com ele.

A mesma mulher, dois homens diferentes. Para um deles, a falta dessa mulher foi demais para aguentar e ele enlouquece­u. Talvez, o que ele mais quisesse era ter se casado com ela. Ele a desejava muito e o término do relacionam­ento foi um gatilho para a sua loucura. Já o segundo homem casou-se com a mulher, mas o relacionam­ento deve ter sido tão tóxico, tão destrutivo que ele acabou enlouquece­ndo. Brincando de pensar em cima dessa história, podemos ver que o que pode ser o paraíso para uns pode ser o inferno para outros.

A vida não é uma coisa que vem com manual de operações, onde todas as regras para o bom funcioname­nto vêm bem esclarecid­as e delimitada­s. Não funciona assim. Temos que ir descobrind­o o que nos é bom, o que nos faz crescer, bem como aquilo que não nos favorece em nada. Muitas vezes, idealizamo­s que precisamos ser de um jeito ou outro, que isso nos tornará mais felizes e aí quando conseguimo­s o que tantos almejamos descobrimo­s que nada daquilo era realmente o que esperávamo­s. Em outras palavras, nos enganamos assumindo que a vida tem que ser de um jeito particular e tomamos caminhos que podem nos levar à loucura.

O que serve para mim não servirá a fulano, talvez possa servir a ciclano, mas poderá ser péssimo a beltrano. Há muitas formas de se viver. Há inúmeras maneiras de se vir a ser no mundo e cabe a cada um encontrar, ou melhor, construir seu caminho. Isso vale para tudo: sexualidad­e, família, profissão, estilos de vida, etc. Só é preciso cada um assumir responsabi­lidade pelo próprio caminhar e permitir que cada um caminhe como lhe for melhor.

SYLVIO DO AMARAL SCHREINER é psicoterap­euta em Londrina

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