(In)coerência
Certo homem se afeiçoou a um rato, por lhe parecer bonitinho por causa da pelagem diferenciada que apresentava. Dava-lhe comida e deixava a porta da casa aberta para ele entrar. Aos poucos, o rato foi se proliferando, tomando conta da casa, disseminando doenças e deixando enfermos muitos de sua família. Ao reclamar com o seu vizinho sobre isso, este lhe disse: “Não alimente mais o mal e não deixe mais ele entrar em sua casa”.
Assim tem sido com milhões de pessoas com relação às imundices produzidas e disseminadas por alguns programas de TV no Brasil. Muitos desses milhões de espectadores dãolhe a comida da audiência, deixam entrar a ignomínia em sua casa, são complacentes com valores muitas vezes imorais, e depois reclamam do estrago moral que fazem nas famílias. Permitem entrar em seus lares e na mente de seus próprios filhos conceitos e imagens de sexo explícito, de pornografia, de violência, de traição, de desonestidade, de falsidade, de mentiras, de ideologias que afrontam as leis de Deus e a dignidade das famílias, como sendo coisas normais, como sendo verdades.
Da mesma forma milhões de brasileiros reclamam, com razão, da falta de recursos para a reforma e construção de hospitais, para a compra de medicamentos, para o aumento da segurança pública, para uma melhor educação para seus filhos, no entanto, eleição após eleição, continuam elegendo os mesmos políticos corruptos que ao longo dos anos sangraram os cofres públicos de preciosos recursos que acabam depois fazendo falta à sociedade. Ao fazerem isso, avalizam a hipocrisia, a mentira, a falsidade e a corrupção, já que conduzem ao poder aqueles que comprovadamente praticaram tudo isso no passado.
Na vida privada, é comum pessoas que num dia enviam ou compartilham mensagens pelas redes sociais de bênçãos, de bons valores morais, de orações, de amor, de caridade e de fraternidade, no entanto, no dia seguinte, muitas dessas pessoas enviam ou compartilham mensagens de pornografia, de obscenidades, de humilhações, de sensualidade, piadas de mau gosto ou preconceituosas, tudo sob o pretexto de serem apenas “brincadeiras” entre amigos.
Também é comum pessoas que participam de celebrações religiosas em suas respectivas igrejas num ambiente que prima, acima de tudo, pelo amor e respeito ao próximo, mas que na semana seguinte muitas vezes não hesitam em fomentar, ou serem coniventes com sentimentos e atitudes de discórdia, desonestidade, arrogância, egoísmo ou julgamentos em seu ambiente familiar, de amigos ou de trabalho.
Não se trata aqui da crítica pelas escolhas, pois as pessoas são livres para optarem entre o certo ou o errado, entre a luz ou a escuridão, entre o puro ou o impuro, entre o lixo ou o manjar. A questão está em sermos, ou não, coerentes com nossas escolhas. É cômodo estar com um pé na canoa do mundo, e outro na canoa do reino de Deus, conforme a conveniência de nossos próprios interesses.
É preciso fazer escolhas e termos a consciência do bem ou do mal que essas escolhas possam fazer em nossas vidas. Se nessa vida algumas pessoas se dão ao luxo de navegar entre o certo e o errado, entre a verdade e a mentira, entre a morte e a vida, como se isso não trouxesse nenhuma consequência, então vale lembrar aqui o que o senhor Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, nos diz: “Conheço tua conduta: não és frio, nem quente. Oxalá, fosses frio ou quente! Assim, porque és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar de minha boca” (Apocalipse 3,15-16).
É cômodo estar com um pé na canoa do mundo, e outro na canoa do reino de Deus, conforme a conveniência de nossos próprios interesses” CARLOS JOSÉ ESTEVAM LIOTI é administrador em Londrina