Folha de Londrina

Vencer a intolerânc­ia e o fundamenta­lismo

- DOM GEREMIAS STEINMETZ é arcebispo Metropolit­ano de Londrina

O momento histórico que estamos vivendo, por diversas razões, é carregado de muita intolerânc­ia e também de fundamenta­lismos. Nos dicionário­s que consultei, intolerânc­ia “é uma atitude mental caracteriz­ada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões”. No mesmo dicionário, fundamenta­lismo “é a estrita adesão a um conjunto específico de doutrinas teológicas tipicament­e em reação à teologia do modernismo”. Estes dois termos, porém, denotam reações e conceitos na área da religião, da política, da economia, da cultura, da educação, etc. É, portanto, um movimento mundial muito amplo.

Motivados por acontecime­ntos recentes envolvendo a utilização de símbolos religiosos da fé católica em manifestaç­ões e exposições “artísticas”, “que, em nome da arte e da cultura, desrespeit­aram a sexualidad­e humana e vilipendia­ram símbolos e sinais religiosos, dentre eles o crucifixo e a Eucaristia, tão caros à fé dos católicos”. Os bispos que integram o Conselho Permanente da Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) elaboraram a mensagem ao povo brasileiro, divulgada em coletiva de imprensa, realizada na sede da entidade, dia 26/10. No documento, os bispos reconhecem que “em toda sua história, a Igreja sempre valorizou a cultura e a arte, por revelarem a grandeza da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, fazendo emergir a beleza que conduz ao divino”.

Contudo, recentemen­te, a mensagem destaca que “crescem em nosso meio o desrespeit­o e a intolerânc­ia que destroem esta harmonia, que deve marcar a relação da arte com a fé, da cultura com as religiões. Se, por um lado, a arte deve ser livre e criativa, por outro, os artistas e respon- sáveis pela promoção artística não podem desconside­rar os sentimento­s de um povo ou de grupos que vivem valores, muitas vezes, revestidos de uma sacralidad­e inviolável”.

Os bispos chamam a atenção de toda a sociedade, dizendo: “O desrespeit­o e a intolerânc­ia, por parte de artistas para com esses valores, fecham as portas ao diálogo, constroem muros e impedem a cultura do encontro. Preocupam, portanto, o nível e a abrangênci­a destas intolerânc­ias que, demasiadam­ente alimentada­s em redes sociais, têm levado pessoas e grupos a radicalism­os que põem em risco o justo apreço pela arte, a autêntica liberdade, a sexualidad­e, os direitos humanos, a democracia do País”.

Penso que é necessário dizermos claramente que: vivemos numa sociedade pluralista, por isto, precisamos saber conviver com os diferentes. Isso, contudo, não subtrai à Igreja o direito de anunciar o Evangelho e as verdades nele contidas, a respeito de Deus, do ser humano e da criação. Em desacordo com ideologias como a de gênero, é nosso dever ressaltar, sempre mais, a beleza do homem e da mulher, tais como Deus os criou, bem como os valores da fé, expressos também nos símbolos religiosos que, com sua arte e beleza, nos remetem a Deus. Desrespeit­ar estes símbolos é vilipendia­r o coração de quem os considera instrument­os sagrados na sua relação com Deus, além de constituir crime previsto no Código Penal.

Vamos reforçar sempre mais a “cultura do diálogo e do encontro”. Através deles é possível respeitar e exigir respeito e sentir as riquezas e dons que encontramo­s no outro para o bem de todos.

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