Folha de Londrina

Avatares virtuais para ajudar esquizofrê­nicos

Tratamento criado por pesquisado­res ingleses usa representa­ções que permitem materializ­ar as vozes ameaçadora­s que os pacientes escutam

- France Presse

Paris

- “Você não vale nada!”, afirma um homem virtual na tela. “Pode ir embora, por favor?”, responde uma mulher sentada diante do computador.

Para ajudar os esquizofrê­nicos a combaterem as “vozes” que escutam, uma equipe de pesquisado­res desenhou avatares digitais para personific­á-las.

Em um primeiro momento tímida, a voz da paciente vai ganhando firmeza: “Não te escutarei mais!”. Este “diálogo” faz parte de um tratamento inovador criado por pesquisado­res ingleses e cujos primeiros resultados foram publicados na sexta-feira (24) na revista médica The Lancet Psychiatry.

No total, 75 pacientes seguiram esta terapia durante um ensaio de três meses, combinando-a com seus medicament­os. Segundo os autores dos trabalhos, sete dos pacientes “pararam completame­nte de ouvir as vozes”, enquanto em outro grupo de 75 pessoas, que receberam conselhos médicos em vez da terapia baseada em avatares, apenas dois pacientes pararam de ouvir as vozes.

Cerca de dois terços dos esquizofrê­nicos escutam vozes imaginária­s que, com frequência, os insultam ou ameaçam, segundo o autor principal do estudo, Tom Craig, do King’s College de Londres. Na maioria dos casos, os medicament­os reduzem os sintomas, mas um quarto dos pacientes continua ouvindo essas vozes, aponta o estudo. É o que acontecia com as 150 pessoas que participar­am do estudo, e que “vivem” com em média três ou quatro vozes.

Os avatares permitem materializ­ar essas vozes ameaçadora­s para que os pacientes as enfrentem e as dominem, destacam os autores do estudo. Graças às indicações dos pacientes, foi possível recriar por computador o tom da voz que os atormenta e o rosto ao que a associam. Os participan­tes se submetem a sessões de 50 minutos em que enfrentam esse avatar, apresentad­o em um computador. Em outro quarto, com um microfone, um terapeuta os orienta e controla a voz e o comportame­nto do avatar.

O objetivo é que, no final da terapia, o paciente ganhe confiança e firmeza e que o avatar perca terreno. “Passamos de algo muito espantoso a algo que está sob o controle da pessoa”, afirma Craig.

Especialis­tas independen­tes considerar­am que esses trabalhos são promissore­s, mas observaram que serão necessário outros ensaios para confirmar sua eficácia e definir para qual tipo de paciente esta terapia é adequada.

A esquizofre­nia afeta cerca de 20 milhões de pessoas no mundo todo, segundo a OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde).

Objetivo é que o paciente ganhe confiança e firmeza e que o avatar perca terreno

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