LUIZ GERALDO MAZZA
Vácuo gerado pelo ceticismo deveria facilitar o afloramento de lideranças mais jovens.
Paraná em destaque
Vários dos delatores, como Paulo Roberto Costa e o extesoureiro João Vaccari Neto, são da terra como o Youssef que já aparecia no processo Banestado da CC5. Já há condenados e novos denunciados como a senadora Gleisi Hoffmann e o marido Paulo Bernardo, ex-ministro e incurso em outras trutas como dos empréstimos consignados, com respectivos processos no STF.
Claro que temos gente nossa no polo oposto, o da acusação, como a força-tarefa da Polícia Federal e do Ministério Público e no do julgamento com os magistrados Sérgio Moro e o desembargador Gebran no TRF4. É verdade que também há denúncias menos candentes contra o governador que tramitam no STJ, mas o que surpreende, convenhamos, é a falta de expressão do principal eleitor, com duas reeleições na prefeitura da capital e no governo do Estado, ambas no primeiro turno, e a baixa expressão que ostenta em termos nacionais, quer na intimidade do seu partido, o PSDB, agora às voltas com nova denúncia contra um dos seus pilares, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Num momento em que até uma figura como Luciano Huck ganha relevância e precisa declarar-se não candidato para acalmar o ambiente, vemos o nosso governador, gestor de um Estado rico, sumir nesse processo em que não tem desvantagens entre os cardeais partidários, ainda que esteja longe de uma presença como a do seu pai. Essa baixa presença contrasta com o ativismo regional visando a sua candidatura ao Senado, ora com prebendas aos municípios, ora com um empenho de última hora na paralela na estrada da Ponta do Poço e da ponte na baía de Guaratuba, uma adaptação de um plano do litoral do governo Paulo Pimentel sob o comando do arquiteto Luís Forte Neto na parte referente à infraestrutura de 1966. .
O vácuo gerado pelo ceticismo em relação à fauna política deveria facilitar o afloramento de lideranças mais jovens como a do governador no cenário brasileiro. É claro que a postulação de Alvaro Dias à Presidência pode constituir-se numa compensação e numa surpresa. Também não surpreenderá se mais uma vez a nossa vocação autofágica invadir o espaço como se deu nas vezes anteriores, inclusive na tentativa presidencial de Affonsinho Camargo, assessorado pelo ator de TV, o “nojento”.
Rotina
Operações policiais, inclusive com apoio em helicópteros, constituem uma rotina na Vila das Torres. Tendem até, em número, a competir com as etapas da Lava Jato que já chegou na 49ª. A de ontem, entre prisões e apreensões de material, saiu da escala comum porque houve casos de famílias inteiras encanadas. A outrora Vila Pinto já se urbanizou, ganhando um casario melhor definido, mas suas raízes de origem se evidenciam nas ações do tráfico que ali detém poderosa influência. Essas operações, ainda que contínuas, parecem levar as lideranças a uma constante migração a outros pontos da cidade. É ao menos uma evidência que a autoridade não desertou, ainda que isso não signifique a solução do problema.
Integração
A integração física do Paraná, consolidada no ciclo neysta, não implicou em integração cultural. Entre os dois polos mais importantes, Curitiba e Londrina, havia até discreta emulação especialmente no teatro. Na última edição de “Cândido”, jornal da Biblioteca Pública, havia dois poemas da nossa colega Célia Musilli, algo que deveria ser uma constante para adensar um intercâmbio necessário. E isso não apenas em publicações oficiais como teremos agora a continuidade da revista “Helena”, como tivemos de caráter até interamericano a “ETC” da “Travessa dos Editores”, de Fabio Campana, que deixou de circular, produção gráfica de alta qualidade.
Ofensiva
É tão assustadora a estatística de violência contra a mulher, inclusive taxas de feminicídio, que foi bem recebida a ação do governo pelo setor responsável de uma campanha em que se usará o botão do pânico que possa facilitar a intervenção da guarda municipal em caso de ameaça ou agressão.
Um exemplo
Ontem, o pessoal da Fundação de Ação Social de Curitiba registrou um feito em sua batalha diária com os moradores de rua. É que uma figura da resistência e que ainda por cima vivia numa casinha de cachorro, o que era tremendamente constrangedor, acabou convencida pelos educadores e membros da família a retornar ao convívio doméstico. O esforço de persuasão é raramente compensado por situações como essa, já que moradores de rua têm extrema dificuldade em sair do seu exercício de liberdade, oposto aquele mínimo de ordem que se exige num local de internação.
Folclore
Sobre a nossa autofagia, uma das piadas clássicas é de Joffre Cabral Silva que se referia aos símbolos do Paraná esclarecendo que aquele homem que aparece com uma sega à não é um produtor rural, mas sim um paranaense pronto a cortar a cabeça do primeiro que pretenda aparecer.