Folha de Londrina

Papa Francisco chega a Mianmar para visita inédita

País budista tem minoria católica e preocupaçã­o do pontífice é com perseguiçã­o a outra minoria, de muçulmanos

- Mundo@folhadelon­drina.com.br France Presse

Yangon, Mianmar -

Recebido por milhares de birmaneses com as tradiciona­is roupas brancas, o papa Francisco desembarco­u em Mianmar nesta segundafei­ra (27) para uma visita muito delicada ao país asiático de maioria budista, cujo governo foi acusado, recentemen­te, de “limpeza étnica” contra a minoria muçulmana rohingya.

Muitos católicos chegaram de todas as partes do país, levando bandeiras birmanesas e do Vaticano nas mãos, na esperança de ver o sumo pontífice. Os católicos representa­m pouco mais de 1% da população do Mianmar.

“Vi o papa. Estou tão feliz que chorei”, exclamou Christina Aye Aye Sein, uma jovem católica, pouco depois da passagem do comboio do papa, em Yangon, capital econômica de Mianmar.

Em sua 21ª viagem, o pontífice também visitará Bangladesh, outro país com grandes tensões religiosas para o qual muitos rohingyas emigraram, fugindo da violência.

Quase 620 mil muçulmanos fugiram desde o fim de agosto do estado de Rakhine (oeste de Mianmar), onde o Exército executou uma dura campanha de repressão que a ONU chamou de “limpeza étnica”.

As palavras do pontífice sobre os rohingyas serão cuidadosam­ente analisadas em um país que registra uma forte tensão religiosa. Nos últimos meses, Francisco não hesitou em denunciar o tratamento recebido por aqueles que chama de “irmãos rohingyas”.

Durante a visita, o papa se reunirá com o comandante do Exército, Min Aung Hlaing, apontado por organizaçõ­es de defesa dos direitos humanos como o principal culpado pela campanha de repressão. Na semana passada, Mianmar e Bangladesh anunciaram um acordo para o retorno dos refugiados rohingyas, mas o comandante do Exército se declarou contrário a um retorno em massa.

O papa também se reunirá com a dirigente birmanesa e prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, cuja reputação internacio­nal foi abalada por sua falta de empatia a respeito dos rohingyas. Com um forte sentimento nacionalis­ta budista e amplamente contrária aos muçulmanos, a opinião pública birmanesa está indignada com os questionam­entos da comunidade interna- cional sobre a maneira como o governo administra o conflito.

TENSÕES

“A grande maioria das pessoas em Mianmar não acredita no discurso internacio­nal dos abusos contra os rohingyas, nem no êxodo de um grande número de refugiados a Bangladesh”, explicou Richard Horsey, um analista independen­te que mora em Mianmar, país onde vivem quase 700 mil católicos, o que representa pouco mais de 1% dos 51 milhões de habitantes do país. “Se o papa vier e tratar o assunto de forma insistente, vai aumentar as tensões”, completou o analista.

A dúvida é saber se, neste contexto, ele evitará pronunciar o termo “rohingya”, tabu em Mianmar, como recomenda a Igreja local, temerosa de que isto possa despertar a ira dos extremis- tas budistas. Essa viagem traz esperança entre os refugiados rohingyas, os quais denunciam, de Bangladesh, estupros, torturas e assassinat­os praticados pelo Exército birmanês.

Francisco é o primeiro papa a visitar Mianmar, onde as autoridade­s esperam 200 mil pessoas em uma missa ao ar livre na quartafeir­a (29), em Yangun. O papa dá grande importânci­a ao desenvolvi­mento do catolicism­o na Ásia, onde apenas 3% da população pertence a esta confissão. Francisco já visitou Coreia do Sul, Sri Lanka e Filipinas.

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Ye Aung Thu/AFP Pontífice acena para simpatizan­tes nas ruas da capital econômica de Mianmar; antes, reuniu-se com comandante do Exército birmanês
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