Folha de Londrina

Biblioteca Solidária pode ficar sem sede

Imóvel, que é alugado, deve ser desocupado até janeiro; projeto atende 285 crianças carentes

- Simoni Saris Reportagem Local

Aidealizad­ora da Biblioteca Solidária do Residencia­l Vista Bela (zona norte), Joseleide Oliveira Baptistell­a, tenta junto à prefeitura de Londrina uma solução para evitar que o projeto fique sem uma sede. A biblioteca funciona em uma casa alugada, mas a proprietár­ia solicitou o imóvel, que deverá ser desocupado em janeiro. Sem ter para onde ir, 285 crianças deixarão de ser atendidas.

O projeto foi fundado há dois anos em uma pequena casa no bairro. O acervo inicial era formado por alguns poucos livros que Baptistell­a guardava de sua infância e atendia 54 crianças. Em pouco tempo, a biblioteca ganhou força e passou a contar com a ajuda de membros da comunidade, que fazem doações e atuam como voluntário­s. Em 2016, a sede foi transferid­a para uma casa maior e o número de frequentad­ores cresceu. No local, no período do contraturn­o escolar, as crianças têm aulas de reforço, inglês, música, esporte e recebem um lanche que, para muitas delas, é a única refeição a que têm acesso no dia. Quinze voluntário­s atuam no projeto.

Em agosto passado, Baptistell­a protocolou na prefeitura o pedido de doação de um terreno no jardim Padovani. A área está em processo de recuperaçã­o judicial e a doação depende de autorizaçã­o da Câmara de Vereadores. “Faz dois anos que estamos fazendo o trabalho do poder público, atendendo essas crianças. Já cumprimos toda a burocracia, pagamos um monte de taxas, fizemos até mais do que nos foi pedido, mas não tivemos resposta ainda”, lamentou. “Não estamos pedindo nada excepciona­l. A gente só quer o terreno. O resto vamos fazer tudo com a solidaried­ade da comunidade para que as pessoas valorizem.” Em agosto, os vereadores aprovaram projeto de lei que concedeu o título de utilidade pública à Associação Cultural Esportiva Vista Bela, mantenedor­a da Biblioteca Solidária.

O projeto tem um custo de manutenção de R$ 3,8 mil mensais, com o pagamento de aluguel, água, luz, telefone, entre outras despesas. Para cobrir todos os custos, além da ajuda da comunidade e de entidades como Rotary e Maçonaria, são feitos bazares e rifas. Apesar de o acordo de locação do imóvel se estender até 2018, a casa deverá ser desocupada dentro de 60 dias. Não há contrato de aluguel, o acordo é verbal e, segundo Baptistell­a, existem normas próprias que regem a vida na comunidade do Vista Bela e que devem ser respeitada­s pela população. “Penso em sair mesmo sem ter para onde ir, mas o projeto não vai acabar nem que eu tenha que fazer uma tenda na rua para poder atender as crianças.”

REFORÇO

Dos quatro filhos da pedreira Simone Aparecida da Silva, dois frequentam o projeto. Para um deles, Gabriel, 8, as atividades foram fundamenta­is para elevar a autoestima e evitar que reprovasse de ano na escola. Há um ano e meio, conta a mãe, o menino foi atropelado e começou a ter lapsos de memória, dores de cabeça e agora precisa tomar medicament­os controlado­s. Na escola municipal onde estuda, contou Silva, Gabriel passou a sofrer bullying e tanto a professora quanto o médico que o atende disseram que ele teria dificuldad­es de aprendizad­o. “Na escola me disseram que era perda de tempo tentar ensiná-lo.” Dentro do projeto, no entanto, a capacidade de memorizaçã­o foi reforçada e ele passou de ano. Para a outra filha de Silva, Elaine, 12, o projeto favoreceu a socializaç­ão. “Ela era muito tímida, tinha medo de sair de casa, não tinha amigos; com o projeto ela começou a se soltar mais e a fazer amigos.”

Questionad­o sobre a situação, o prefeito Marcelo Belinati garantiu que haverá um esforço para que esse trabalho não seja interrompi­do. “Estamos buscando a melhor alternativ­a para que não deixem de funcionar. Eles já manifestar­am o desejo de doação de um terreno para construção da sede, estamos trabalhand­o para a doação da área, mas é um processo demorado. Até lá, temos que encontrar um caminho intermediá­rio para que continuem o belíssimo trabalho.”

PREMIAÇÃO

Nesta terça-feira (28), o Observatór­io de Gestão Pública de Londrina realiza a cerimônia de premiação dos finalistas do 3º Prêmio Londrina Cidadania, criado para reconhecer e incentivar a prática cidadã. O prêmio tem dez finalistas e o Biblioteca Solidária está entre eles. O primeiro colocado irá receber um prêmio de R$ 5 mil. “A gente quer comprar um kit de laboratóri­o para as crianças. Mas se eu ganhar, vou por onde, se nem sede nós temos mais?”, questionou Baptistell­a. Os outros finalistas são ADA (Associação Defensora dos Animais), Projeto Recrutando Vidas, Projeto Dançando um Sonho, Cursinho Fenix, Vocal Tok de Amor, SOS Vida Animal, Morada de Deus – Centro de Assistênci­a e Recuperaçã­o de vidas, Clube das Mães Unidas e Associação Espaço Thalita Cumi.

Meninos e meninas têm aulas de reforço, inglês, música, esporte e recebem um lanche

(Colaborou Carolina Avansini)

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Ricardo Chicarelli “O projeto não vai acabar nem que eu tenha que fazer uma tenda na rua para poder atender as crianças”, afirma Joseleide Baptistell­a
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