De uma cidade
Em “A Invenção de Paris”, Eric Hazan apresenta uma história afetiva da cidade de Paris
Cidade não é apenas o lugar onde moramos, o lugar onde trabalhamos, ou o lugar onde dormimos todas as noites.
Cidade é o lugar onde sentimos.A partir dessa constatação, traçar a história de uma cidade pode ser uma jornada afetiva. Esse é o caminho trilhado pelo editor e historiador francês Eric Hazan em “A Invenção de Paris”, obra que acaba de ser lançado pela editora Estação Liberdade.
Em sua abordagem, Eric Hazan faz uso do conceito de psicogeografia desenvolvido pelo historiador Guy Debord (1931 – 1994). Um conceito leva em consideração os efeitos que o ambiente geográfico opera nos sentimentos, emoções e comportamentos dos indivíduos. No caso do espaço urbano, essa dimensão afetiva estaria reservada a todo e qualquer individuo em seu cotidiano.
“A Invenção de Paris” não traz a história da cidade em seu sentido clássico, com episódios e datas, mas através das observações de um transeunte que perambula por suas ruas ao longo de décadas. Uma perambulação que se estende aos séculos passados através de registros históricos, literários e fotográficos. A abordagem de Eric Hazan não começa com a fundação de Paris, que remete a um povoado muito antes da idade cristã, mas na Antiga Paris, ou a Paris Medieval, que se tornou uma grande potência europeia a partir do século 15. Uma cidade que ganhou sucessivas muralhas para depois germinar ‘faubourgs’ e ‘boulevards’. As e revoluções que tumultuaram a cidade também aparecem como fatores determinantes para o caráter urbano de Paris em constantes transformações.
A parte mais interessante da obra recai sobre o capítulo que olha para a cidade a partir da ótica dos escritores, pintores e fotógrafos. Os escritores ocupam lugar de destaque por retratarem Paris com afinco. Principalmente aqueles que criaram e colocaram em prática a ideia do ‘flâneur’, um conceito nascido especificamente em Paris.
A melhor definição da ideia de ‘flanância”, vem de Charles Baudelaire: “Para o perfeito flanador, para o observador apaixonado, é um imenso prazer escolher um domicílio em meio à multidão, à ondulação, ao movimento, ao fugaz e ao infinito. Estar fora de casa e, ainda assim, sentir-se em casa em todos os lugares; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer escondido do mundo, estas são algumas das satisfações mais simples desses espíritos independentes, apaixonados, imparciais que a língua só consegue exprimir desajeitadamente. O amante da vida universal entra na multidão como num reservatório de eletricidade. Podemos também compará-lo a um espelho tão vasto quanto essa multidão; a um caleidoscópio dotado de consciência que, a cada um de seus movimentos, representa a vida múltipla e a graça movediça de todos os elementos da vida.”
Outro elemento revelador: a fotografia nasce em Paris em meados do século 19. E de maneira totalmente documental. As primeiras experiências daquilo que hoje chamamos de fotografia foram realizadas nas ruas da cidade. E os primeiros registros de imagens que deram origem à técnica fotográfica, retratam Paris onde a luz natural era necessariamente mais incisiva.
Um exemplo da fotografia surge em 1865, quando a administração municipal decide derrubar a parte antiga da cidade em nome da modernidade com o objetivo de criar grandes vias públicas. Contrata então Charles Marville para registrar tudo aquilo que seria derrubado. A intenção era mostrar como ruas e edificarevoltas
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