Precisamos ficar atentos para que a cultura não se transforme em instrumento de dominação
Segundo especialista, durante as tempestades elas caem com mais frequência porque o plantio é cheio de restrições que afetam a sustentação
Eventos climáticos graves como o registrado no dia 20 de novembro em Londrina podem derrubar árvores e muitos outros elementos da área urbana, como postes e até mesmo imóveis. “As árvores caem com mais frequência porque o plantio delas nas ruas é cheio de restrições que afetam a sustentação”, adverte Daniela Biondi, doutora em engenharia florestal na área de arborização urbana e professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
“Na floresta, onde há áreas permeáveis, sem calçadas ou construções, a raiz se torna mais profunda e as árvores se desenvolvem melhor”, explica. Na zona urbana, ao contrário, o solo modificado, a falta de espaço para as raízes e outros fatores estressantes impõem limitações. “A floresta tem uma comunidade de plantas que se protegem, mas nas ruas elas são vistas como obstáculos e acabam sendo submetidas a podas inadequadas, o que também gera desequilíbrio e as tornam mais sujeitas a quedas. Na verdade as árvores urbanas são muito resistentes, pois apesar disso consegue se recuperar”, diz.
Evitar acidentes em condições tão adversas às plantas depende de monitoramento. “Galhos velhos podem cair, é um processo que faz parte da natureza, mas
precisa ser observado”, ensina Biondi, lembrando que as podas também aumentam riscos, pois deformam e desequilibram as árvores.
Engenheiro agrônomo, pesquisador aposentado do Iapar e um experiente observador da natureza, Walter Miguel Kranz afirma que, diante da qualidade do plantio das árvores em Londrina, os estragos poderiam ter sido maiores diante da intensidade da intempérie do dia 20.
“Um grande problema são os erros que as pessoas cometem na produção das mudas”, afirma, explicando que, na pressa de ter plantas grandes em loteamentos, é comum usar mudas de dois ou três metros que acabam tendo raízes cortadas para
viabilizar a implantação. “A planta desenvolve, mas pode ter uma infecção que causa apodrecimento da parte central”, diz. Mudas em sacos plásticos também correm risco de sofrer com enovelamento do caule. “A raiz envolve o caule e acaba estrangulando”, alerta.
Concretagem rente às árvores, uso de substâncias agressivas na lavagem de calçadas, vandalismo em plantas jovens e podas mal feitas são outros vilões da arborização urbana. “Se uma árvore quebra na raiz, é porque tem problemas. Isso não acontece em plantas sadias”, garante.