Muçulmanos em Bangladesh não sabem quem é o papa
Kutupalong, Bangladesh -
O saída em massa de muçulmanos de Mianmar e sua ida para acampamentos no país vizinho, Bangladesh, é o principal motivo da delicada visita do papa Francisco aos dois países asiáticos. Mas, nos acampamentos onde esses refugiados - os rohingyas, no sul bengali, eles perguntam: “Mas quem é o Papa?” Francisco chega nesta quinta-feira (30) a Bangladesh.
Dos quase 900 mil muçulmanos rohingyas de Mianmar que encontraram abrigo no vizinho Bangladesh, apenas um punhado já ouviu falar do chefe da Igreja Católica. Quando a AFP mostra uma foto do jesuíta de 80 anos, as hipóteses emergem: um rei rico, um astro americano, um político de Bangladesh, ou um líder muçulmano.
Considerados estrangeiros em um país onde 90% da população é budista, os rohingyas são marginalizados e têm acesso limitado ao sistema escolar. Vivendo em uma sociedade pobre e rural, onde o universo é muitas vezes limitado à aldeia e a seus arredores, seus meios de abertura para o mundo são reduzidos. Sem educação, muitos deles são analfabetos.
Imã no grande campo de deslocados de Kutupalong, Hassan Arraf é uma das poucas pessoas entrevistadas a conhecer o papa. “O modo como (os birmaneses) nos torturam, nenhuma religião no mundo permite. Ele (papa) é um grande líder de outra religião, mas acredito que seja um homem sábio”, disse Arraf.
É a primeira vez que um papa visita Bangladesh desde 1986. “Esperamos que sua visita tenha um impacto muito positivo e crie uma boa solução entre os dois países”, completou o imã.
MIANMAR
A visita iniciada em Mianmar na segunda-feira (27) terminou nesta quarta. Embora em pronunciamentos recentes, o papa tenha falado abertamente sobre a situação dos rohingyas, “torturados e mortos por causa de suas tradições e fé”, no discurso oficial em Mianmar evitou pronunciar a palavra “rohingya”, tabu nesse território agitado pelo nacionalismo.