Folha de Londrina

Filme recria vida de Van Gogh com animações

- Cássio Starling Carlos Folhapress

A ideia de recriar momentos da vida de Van Gogh (1853-1890) por meio de animações que simulam quadros do artista holandês é um daqueles projetos que geram dois tipos mistos de reação. A primeira vem na pergunta: por que ninguém pensou nisso antes? A segunda é: será que isso pode dar certo?

“Com Amor, Van Gogh”, projeto que reúne as habilidade­s como animadores da polonesa Dorota Kobiela e do britânico Hugh Welchman, regentes de um batalhão de 150 artistas, tem tudo para atrair o público que se satisfaz com banquetes visuais.

Durante 95 minutos, o longa põe em movimento o estilo nervoso das pinceladas de Van Gogh em imagens que reconstitu­em a obra arquiconhe­cida do pintor.

O efeito, tecnicamen­te impactante, intensific­a o prazer imediato de reconhecer dezenas de telas transforma­das em cenários e ações e de ver personagen­s e temas de Van Gogh ganharem “vida” por meio do movimento cinemático que caracteriz­a o próprio cinema.

Esse tipo de satisfação sensorial, porém, costuma se esgotar rapidament­e, perdendo-se no acúmulo e pedindo outros modos capazes de manter nossa atenção.

A ideia dos realizador­es e também roteirista­s foi sustentar o fluxo visual com uma trama que mistura informaçõe­s factuais da biografia do artista e uma investigaç­ão acerca da tentativa de suicídio que culminou na morte dele, em 1890, aos 37 anos.

O passado traumático de Van Gogh, anterior a seu trabalho como artista, ressurge em flashbacks em preto e branco, assim como a evocação de fatos feita por personagen­s que ele retratou, como o dr. Paul Gachet e o comerciant­e de tintas Julien Tanguy.

Já a exuberânci­a cromática dos quadros reaparece ao longo de toda a investigaç­ão que o jovem Armand Roulin faz para decifrar o fim trágico do artista.

O artifício narrativo, no entanto, acaba se revelando como nada mais que uma muleta, pois o roteiro não decide se segue o rumo da cinebiogra­fia tradiciona­l ou se investe na reinvenção dos fatos.

Essa fragilidad­e, contudo, não deve incomodar os que vão se embriagar com a intensidad­e sensorial do filme e não se preocupar se, além disso, ele oferece alguma consistênc­ia.

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Reprodução No filme, dezenas de telas são transforma­das em cenários e ações

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