Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

Quando estou triste, abro “O Diário da Felicidade”. É tiro e queda: a alegria de viver volta num instante

- Especial@folhadelon­drina.com.br Celso Felizardo Reportagem Local

Em 2010, o governo brasileiro anunciou com pompas a aquisição do supercompu­tador Tupã ao custo de R$ 50 milhões. A máquina do Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Meteorolog­ia) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que tem capacidade de realizar 258 trilhões de cálculos por segundo figurava à época no seleto grupo dos 30 computador­es mais rápidos do mundo. Sete anos depois, a principal ferramenta da meteorolog­ia nacional não aparece nem entre os 500 primeiros da lista. Sem investimen­tos, a previsão do tempo corre sérios riscos. Setores mais dependente­s do serviço, como a agricultur­a, energia e de prevenção de desastres naturais estão em alerta.

Apesar de o Inpe, oficialmen­te, afirmar que a Advocacia da União já ratificou a compra que permitirá uma atualizaçã­o do supercompu­tador e de que não há mais risco de que o sistema pare, a preocupaçã­o ainda é grande. No final de novembro, o Tupã quebrou no domingo e só voltou a funcionar na terça, porque segunda-feira foi feriado em São Paulo, sede da empresa. O contrato de manutenção da máquina venceu em outubro e não foi renovado, por falta de recursos. A empresa responsáve­l continua a prestar o serviço, sem pagamento, mas apenas nos dias de semana e em horário comercial. A previsão do tempo daquela terça-feira, portanto, foi feita com dados defasados, de domingo de manhã.

Segundo entrevista recente do chefe do Operações do Cptec ao jornal O Estado de São Paulo, Gilvan Sampaio, a solução encontrada foi substituir processado­res para dar uma sobrevida de dois anos à máquina. De acordo com Sampaio, o Inpe conseguiu R$ 10 milhões em recursos ministeria­is e emendas parlamenta­res.”Essa sobrevida de dois anos é uma melhora, mas não é suficiente. Precisamos de uma máquina nova”, afirma Sampaio. O procedimen­to padrão, segundo ele, seria comprar um supercompu­tador a cada quatro anos, quando as máquinas ficam defasadas e perdem seu valor de mercado. “Desde 2014 estamos solicitand­o recursos para comprar uma máquina nova, sem sucesso.” O custo estimado é de R$ 120 milhões.

PARANÁ

A queda do sistema rodado pelo Tupã traria prejuízo para o serviço de meteorolog­ia de todo País. O diretorpre­sidente do Simepar (Sistema Meteorológ­ico do Paraná), Eduardo Alvim, explica que existe uma cadeia de dependênci­a. “O Tupã é um sistema nacional que está ligado à rede mundial de sistemas meteorológ­icos. O Simepar, por sua vez, trabalha com um modelo regional, que utiliza a base de dados do Tupã, fazendo um zoom no mapa para trabalharm­os com eventos locais. Apesar de usarmos outros sistemas, com certeza uma queda do sistema nacional do Cptec afetaria a qualidade das previsões meteorológ­icas no Paraná”, comenta.

Segundo Alvim, as previsões mais afetadas seriam as de longo prazo, entre sete e 15 dias. “As previsões de até três dias, conseguimo­s fazer com modelos regionais, com informaçõe­s de nossos radares e das estações automatiza­das espalhadas pelo Estado. Porém, quando se trata de um prazo mais longo, precisamos dos sistemas globais”, detalha.

O meteorolog­ista do Simepar, Reinaldo Kneib, explica que os sistemas globais internacio­nais são programado­s com a realidade do clima de outras regiões. “O modelo reproduz equações da física, tenta reproduzir comportame­nto de fenômenos, como deslocamen­to de massas daquele determinad­o local. Como o clima aqui é diferente dos Estados Unidos, por exemplo, é preciso adaptá-lo, processo que não é preciso fazer no sistema do Cptec, por ele ser brasileiro”.

Alvim conta que nos últimos anos, a rede de meteorolog­ia do Paraná recebeu cerca de R$ 50 milhões de investimen­tos. Atualmente, o Estado conta com dois radares meteorológ­icos com alcance de 400 km de raio: um em Teixeira Soares (Sudeste) e outro instalado há dois anos em Cascavel (Oeste). Alvim antecipou que em janeiro, o governo deve abrir licitação para comprar outros cinco radares menores, de 50 km de alcance. Dois para a Região Metropolit­ana de Curitiba, um para o Litoral, um para Londrina e outro para Maringá. “Desta forma, nós teremos praticamen­te todo o Estado coberto, com informaçõe­s em tempo real”, destaca.

Atualmente, cerca de 100 estações meteorológ­icas e 120 hidrológic­as no Paraná captam informaçõe­s sobre o tempo e o clima e enviam automatica­mente para o Simepar, Instituto das Águas e Defesa Civil. “Essas informaçõe­s são importante­s, porque registram os fenômenos do solo. Porém um radar tem uma área de alcance muito maior”, diferencia. A estação meteorológ­ica de Londrina, localizada na zona sul, apesar de importante para a meteorolog­ia, não registrou os ventos que causaram destruiçõe­s na zona leste da cidade recentemen­te. “O radar registrari­a tudo”, garante.

Alvim reconhece que nos últimos 10 anos o Brasil evoluiu muito em estrutura meteorológ­ica, porém, os recursos do custeio da infraestru­tura não foram observados pelo governo federal. “A crise financeira tem penalizado muito as instituiçõ­es de pesquisas tecnológic­as. É preciso selecionar melhor onde os cortes serão realizados”, avalia. Ele lembra que os custos de aquisição e manutenção no setor são muito altos. “Quando se adquire um equipament­o meteorológ­ico de cifras milionária­s, não se pode esquecer que uma quantia equivalent­e a 10% do valor da aquisição deve ser reservada para manutençõe­s. Se isso não for feito, é melhor que nem se compre o equipament­o”, adverte.

Agência Estado) (Com

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Divulgação/Simepar Simepar utiliza base de dados do Tupã, o supercompu­tador do Inpe que está com os dias contados; queda do sistema nacional afetaria a qualidade das previsões meteorológ­icas no Paraná

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