Folha de Londrina

Obesidade e cérebro

Cientistas brasileiro­s descobrira­m que adolescent­es obesos apresentam falhas de conectivid­ade

- Saude@folhadelon­drina.com.br Fábio de Castro Agência Estado

São Paulo -

Graças a uma técnica avançada de ressonânci­a magnética, um grupo de cientistas brasileiro­s descobriu que os adolescent­es obesos apresentam falhas de conectivid­ade entre diferentes regiões do cérebro que estão envolvidas na regulação do apetite. O novo estudo, realizado por cientistas da Santa Casa de São Paulo e da USP (Universida­de de São Paulo), foi apresentad­o na quarta-feira (29), no encontro anual da Sociedade Radiológic­a da América do Norte, nos Estados Unidos.

De acordo com os autores da pesquisa, se for possível identifica­r com mais precisão as alterações cerebrais associadas à obesidade, a técnica poderia ser utilizada um dia para ajudar a evitar o problema. Segundo eles, a obesidade infantil aumentoude­10%a40%nosúltimos 10 anos, na maioria dos países.

“Os resultados mostraram que os adolescent­es obesos de fato apresentam falhas na substância branca do cérebro. Essas falhas aparecem em diversas regiões do cérebro, sendo que algumas dessas regiões são muito importante­s para a regulação do apetite”, disse o autor principal do estudo, Ricardo Uchida, professor da Santa Casa de São Paulo.

Segundo Uchida, porém, ainda não é possível determinar se as falhas na conectivid­ade cerebral são causa ou consequênc­ia da obesidade. “O estudo não tem alcance para determinar relação causal. Mas, embora não tenhamos certeza, temos algumas hipóteses. Sabemos, por estudos anteriores, que a obesidade infantil causa prejuízos nas células e, portanto, suspeitamo­s que essas lesões são causadas pela obesidade”, disse Uchida à reportagem.

O cientista lembra também que, de acordo com estudos anteriores, a obesidade é um fator de risco para a doença de Alzheimer, que há uma ligação entre obesidade na infância e baixo QI e que os problemas de atenção e memória são frequentes entre adultos obesos. “Tudo isso pode estar ligado. Se a obesidade produz mesmo lesões no cérebro, isso explicaria algumas das consequênc­ias neurológic­as que já foram observadas em estudos.”

MÉTODO

A pesquisa envolveu 59 adolescent­es obesos com idades entre 11 e 18 anos e 61 adolescent­es não obesos. Os cientistas compararam os dois grupos controland­o variáveis como gênero, idade, classifica­ção socioeconô­mica e nível educaciona­l. Os participan­tes foram submetidos a um exame de ressonânci­a magnética conhecido como imageament­o por tensor de difusão (DTI, na sigla em inglês), a fim de avaliar a integridad­e da massa branca de seus cérebros.

O DTI mede o que os cientistas chamam de “anisotropi­a funcional” (AF), isto é, os movimentos microscópi­cos das moléculas de água que cercam as fibras de matéria branca do cérebro. Quanto mais baixo o valor AF, mais falhas existem na massa branca cerebral. Os resultados mostraram uma perda da integridad­e da matéria branca em diversas regiões do cérebro dos jovens obesos.

“Se nós formos capazes de identifica­r as alterações cerebrais associadas à obesidade, essa técnica de ressonânci­a magnética poderia ser utilizada para ajudar a evitar a obesidade e as complicaçõ­es a ela associadas”, disse uma das autoras do novo estudo, Pamela Bertolazzi, pesquisado­ra do laboratóri­o de neuroimage­m da USP.

O estudo não tem alcance para determinar relação causal, mas temos algumas hipóteses”

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Shuttersto­ck Segundo pesquisado­r, falhas aparecem em diversas regiões do cérebro, sendo que algumas são importante­s para a regulação do apetite

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