Folha de Londrina

Polícia prende homem em Londrina sob suspeita de crime racial

Prisão é desdobrame­nto da Operação Hateless, deflagrada no começo do mês em Santa Catarina; com suspeito, foi encontrado material racista e artefato que será periciado

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Um homem de 24 anos foi preso por volta das 10 horas da manhã desta segunda-feira (11) na Rua Bélgica, no Jardim Igapó, zona sul de Londrina, sob suspeita de envolvimen­to em crime racial contra um advogado e ativista negro em Blumenau (SC). No endereço, residência do suspeito, foram apreendido­s materiais com conteúdo supostamen­te racista e um artefato que, tendo potencial de ser explosivo, será periciado, conforme afirmou o delegado-chefe da 10ª Subdivisão da Polícia Civil, Osmir Ferreira Neves.

O homem preso tem várias tatuagens, como a frase “Hasta la vista antifascis­ta” seguida das iniciais i.h, que faz referência ao grupo paulista do qual ele faria parte; as palavras skinhead entre o desenho de duas suásticas; e o número 88, que faria alusão a outro grupo que deu origem ao grupo i.h.

O mandado de busca e apreensão e de prisão foi emitido pela Justiça catarinens­e a pedido do delegado Lucas Gomes de Almeida, da 2ª Delegacia de Polícia de Blumenau (SC). Trata-se de um desdobrame­nto, no Paraná, da Operação Hateless, que foi deflagrada em 5 de dezembro em Santa Catarina e que resultou na prisão de cinco pessoas em Indaial, Blumenau e Itajaí.

O delegado disse que esta fase da operação começou no fim de setembro, quando a Polícia Civil recebeu a denúncia de que um cartaz com os dizeres “negro, comunista, antifa (integrante de movimento antifascis­ta), macumbeiro. Estamos de olho em você” foi afixado no muro da residência do advogado Marco Antônio André.

O cartaz tinha um desenho do capuz cônico, representa­ndo o movimento racista norte-americano Ku Klux Klan. “Em nossa investigaç­ão identifica­mos testemunha­s e levantamos indícios que foram encaminhad­os para a perícia. Fizemos também investigaç­ão em redes sociais e chegamos a grupos que tiveram envolvimen­to no passado com a prática. Recolhemos cartazes nazistas. Flagrada a ação criminosa, chegamos à autoria e à participaç­ão dos envolvidos, inclusive dessa pessoa que foi presa em Londrina”, relatou Almeida.

O advogado catarinens­e Marco Antônio André, que trabalha no Núcleo de Estudos Afro-brasileiro­s da Universida­de Regional de Blumenau e na Comissão da Igualdade Racial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em entrevista à FOLHA, disse que as prisões não significam que justiça foi feita. “O meu trabalho ainda está começando do ponto de vista racial. O Brasil, por ser um país racista, possui esse preconceit­o histórico enraizado. Acredito que essas pessoas ainda vão continuar a cometer esses crimes”, declarou. “Eu acredito que através da educação pode-se resolver muitos desses problemas no Brasil, no entanto, a lei 10.639 que determina o ensino da História da África nas escolas ainda não é cumprida.”

Para ele, o fato de não haver uma disciplina específica nas escolas permite que os discursos de ódio não sejam extintos. “É preciso entender a história do ponto de vista africano e não só do europeu. Essas pessoas não tiveram acesso à informação quando crianças e se tornaram adultos assim. Em muitos casos, são crimes por ignorância, por não conhecer a história do negro no Brasil. A grande maioria dos integrante­s desses grupos é da classe média e não entende que os negros ajudaram a construir a história deles”, finalizou.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil