Folha de Londrina

A escola do sofrimento

- por Paulo Briguet Fale com o colunista: avenidapar­ana@folhadelon­drina.com.br

Neste domingo, aniversári­o de Londrina, recebi em minha casa uma relíquia do Padre Pio de Pietrelcin­a (18871968), um dos maiores santos do nosso tempo. Segundo minha amiga Vania, que me trouxe o presente por 24 horas, o próprio Padre Pio é quem escolhe a casa das pessoas em que deseja ficar. Eu acredito muito nisso — e agradeço!

Padre Pio, como todos os santos, não teve uma vida fácil. Fez o bem e realizou milagres em quantidade­s impression­antes, mas ao longo de sua trajetória travou uma luta intensa e dolorosa com as forças do mal. Além de receber os estigmas do Cristo e sofrer constantes golpes do demônio, o santo de Pietrelcin­a chegou a ser punido por algumas autoridade­s da Igreja, que o condenaram ao isolamento e a celebrar sozinho a missa durante algum tempo. Como o inimigo não pode atingir a Deus, atinge os seus filhos.

Lendo os escritos do nosso querido Padre Vitor Groppelli, conheci a história de uma santa mulher, também italiana, que enfrentou toda sorte de sofrimento­s ao longo da vida, e por sua reação digna conquistou a amizade de Deus. Seu nome, Benedita Bianchi. Nascida em 1936 na região da Romagna, contraiu poliomieli­te com poucos meses de vida. A doença lhe deixou sequela numa das pernas. Durante a infância e a adolescênc­ia, teve que usar um colete e sofreu diversos problemas de coluna.

Quando ingressou na faculdade de medicina, descobriu que sofria uma doença rara e incurável: neurofibro­matose. Foi submetida a algumas cirurgias no cérebro, que não tiveram êxito. Progressiv­amente, foi perdendo os sentidos da audição, visão, paladar e olfato. Das muletas, foi para a cadeira de rodas. Da cadeira, confinou-se a uma cama, onde passou seus últimos anos de vida. Manteve apenas os movimentos e a sensibilid­ade na palma de uma das mãos. Assim, comunicava-se com o mundo e transmitia mensagens de fé, esperança e amor. “Levo adiante a vida de sempre, que me parece tão completa... É verdade, porém, que a vida me parece um milagre, e eu gostaria de elevar um hino de louvor a Quem ma deu... Às vezes me pergunto se não sou uma daquelas pessoas a quem muito foi dado, e muito será cobrado...”

Benedita Bianchi morreu em 23 de janeiro de 1964. Na mesma hora, florescera­m rosas brancas em seu jardim.

Hoje à noite, dando sequência às palestras do ciclo José Monir Nasser, este cronista de sete leitores vai falar sobre dois gênios da alta cultura que muito sofreram e muito fizeram durante a vida: o escritor judeu-tcheco Franz Kafka (1883-1924) e o filósofo latino Severino Boécio (480-525). Autores das obras-primas “O Processo” e “A Consolação da Filosofia”, Kafka e Boécio têm muito a nos ensinar sobre a escola do sofrimento — esse lugar que, cedo ou tarde, todos nós conhecerem­os durante a vida neste mundo. Espero vocês lá! — Palestras do Ciclo José Monir Nasser — “O Tribunal dos Livros”. Hoje (12 de dezembro), às 19h30, no Centro Paroquial São Vicente de Paulo (Av. Madre Leônia Milito, 545). Entrada franca e sorteio de livros. Mais informaçõe­s pelo fone (43)9-9101-1880.

Todos nós vamos conhecer a dor um dia. Como inimigo não pode atingir a Deus, atinge os seus filhos

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PAulo Driguet

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