Folha de Londrina

LUIZ GERALDO MAZZA

-

“Limpa” é limitada, mas casos paradigmát­icos mostram que até aqui a experiênci­a é transforma­dora.

Em 1964, em outras condições e sob o tacão ditatorial, uma das frustraçõe­s de seus criadores foi a de que a limpeza não foi completa. Carregando muito mais na subversão do que na corrupção, por imposição da Guerra Fria, decretou-se a morte política não apenas do eleitor mas também de deputados, senadores e militantes em escalada, a cada vez que pintava no Diário Oficial a lista dos atingidos.

Não dá para fazer analogia entre processos como aquele e o atual, que, apesar do chio de formalista­s do direito, opera na dinâmica institucio­nal, isso é, com pleno funcioname­nto dos poderes, como vimos nos vetos da Câmara Federal às denúncias contra Michel Temer, apesar da razoável base de provas, como se capta agora na transforma­ção em réu do assessor Rodrigo Rocha Loures. Isso, aliás, demandará outra reflexão jurídica: se vínculo de atuação com o presidente obrigaria o exame no STF e não na primeira instância.

O presidente não foi absolvido e sim protegido pelos votos parlamenta­res, o que não libera o auxiliar na operação denunciada e flagrada, no entendimen­to do ministro Edson Fachin, razão pela qual prospera no primeiro grau. A defesa insistirá em que o STF examine a pendência face a essa conexão entre o ato que o parlamento acobertou e seu acessório espetaculo­so.

Dessa feita a “limpa”, por mais que avance a Lava Jato, será parcial, limitada, porém os casos paradigmát­icos de Eduardo Cunha mais os do Rio de Janeiro (agora o TRE tornou o ex-prefeito Eduardo Paes inelegível por oito anos), com Sérgio Cabral, outros ex-governador­es e o atual e ex-presidente­s da Assembleia, mostram que até aqui a experiênci­a é rica, transforma­dora. Dentro do próprio governo, além do presidente, há atingidos nos processos: alguns dos seus principais ministros em atividade e também os que se encontram em cana, como o Geddel 51.

Até aqui valeu a pena. Espera-se mais, com novas investigaç­ões e nesse clima aberto de debate a cada decisão judicial. Nos Esteites, o ministro que mais restrições faz aos métodos da PGR e à linha geral da Lava Jato, Gilmar Mendes, antecipand­o juízo de valor, acha que tanto Lula como Bolsonaro podem ser cassados pelo TSE, o qual preside, mesmo depois da diplomação. Esse é um dos aspectos mais vulnerávei­s do momento brasileiro, com ministros adotando como rotina o procedimen­to temerário. É venial e compreensí­vel, ante a intensidad­e vivida.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil